Diâmetro da bainha do nervo óptico e desfechos perinatais nas síndromes hipertensivas da gestação: estudo de coorte e construção de manual de treinamento em ultrassonografia do nervo óptico

Abstract

INTRODUÇÃO: as síndromes hipertensivas constituem a complicação médica mais frequente durante a gravidez. O aumento da pressão intracraniana (PIC) é uma das consequências da pré-eclâmpsia. A ultrassonografia ocular tem sido utilizada como método não invasivo para detecção de hipertensão intracraniana através da medida do diâmetro da bainha do nervo óptico (DBNO). Alguns estudos demonstraram maiores diâmetros em mulheres com pré-eclâmpsia e eclâmpsia, -entretanto ainda não existem dados que definam a sua relação com desfechos adversos maternos e neonatais. OBJETIVOS: determinar a associação entre as formas clínicas de síndrome hipertensiva da gestação e o DBNO, bem como entre esta medida e desfechos adversos maternos e neonatais; revisão da literatura para construção de um Manual de Treinamento em Ultrassonografia do Nervo Óptico. MÉTODOS: trata-se de estudo de coorte em que foram incluídas 183 gestantes no terceiro trimestre e puérperas até 24 horas após o parto internadas no pré-parto, enfermaria e Unidade de Terapia Intensiva (UTI) de dois hospitais-escola do Recife, assim distribuídas: grupo controle (30), hipertensão gestacional (14), hipertensão crônica (12), pré-eclâmpsia sem achados de gravidade (12), pré-eclâmpsia com achados de gravidade (62), pré-eclâmpsia superposta (23) e eclâmpsia (30). Todas forneceram consentimento livre e esclarecido e foram submetidas a entrevista e ultrassonografia ocular à beira do leito. Desfechos maternos e neonatais foram anotados conforme registro no prontuário médico. Para comparação entre os grupos, foram utilizados análise de variância para as variáveis numéricas de distribuição normal e o teste de Kruskal-Wallis na ausência de distribuição normal. O teste qui-quadrado ou teste exato de Fisher foi empregado para variáveis categóricas. Para todos os testes, um valor de p bicaudado ≤ 0,05 foi considerado estatisticamente significativo. Foi realizada, ainda, revisão nas bases de dados e plataformas online nacionais e internacionais PubMed, SciELO, LILACS e Google acadêmico para construção do Manual de Treinamento em Ultrassonografia do Nervo Óptico. RESULTADOS: a comparação geral entre os sete grupos não demonstrou diferença significativa quanto à média do DBNO (p=0,056). No entanto, foram verificados maiores diâmetros no grupo da eclâmpsia do que no grupo controle (p=0,003). Diâmetros maiores foram associados a internamento materno em UTI (média 5,1mm; p<0,01) e a near miss materno (média 5,1mm; p=0,01). Não houve associação entre o DBNO e internamento em UTI neonatal (p=0,1), near miss neonatal (p=0,34) ou morte neonatal (p=0,26). Mulheres com DBNO superior a 5mm também apresentaram mais cefaleia (p=0,008), maior índice de internamento em UTI (p=0,0001), maior frequência de parto com idade gestacional inferior a 34 semanas (p=0,01) e Apgar do recém-nascido inferior a sete no primeiro minuto de vida (p= 0,009). CONCLUSÕES: a medida ultrassonográfica do DBNO não apresentou associação com as síndromes hipertensivas da gravidez em uma análise global, porém houve diferença significativa entre as médias dos grupos eclâmpsia e controle. Diâmetros maiores foram associados a internamento materno em UTI e a near miss materno. Os resultados sugerem um potencial para uso da ultrassonografia à beira do leito como ferramenta adicional na estratificação de risco das pacientes com síndromes hipertensivas da gestação.

INTRODUCTION: Hypertensive syndromes are the most frequent medical complication during pregnancy. Increased intracranial pressure (ICP) is one of the consequences of preeclampsia. Ocular ultrasonography has been used as a noninvasive method for detection of intracranial hypertension through measurement of the optic nerve sheath diameter (ONSD). Some studies have demonstrated higher diameters in women with preeclampsia and eclampsia, however, there are still no data to define its relationship with adverse maternal and neonatal outcomes. OBJECTIVES: to determine the association between clinical forms of hypertensive syndrome of pregnancy and ONSD, as well as between this measure and adverse maternal and neonatal outcomes; review of literature for creation of a Training Manual in Optic Nerve Ultrasonography. METHODS: This is a cohort study in which were included 183 pregnant women in the third semester and postpartum women up to 24 hours after delivery hospitalized in antepartum unit, maternity ward and Intensive Care Unit (ICU) of two teaching hospitals in Recife, with the following distribution: control group (30), gestational hypertension (14), chronic hypertension (12), preeclampsia without severe features (12), preeclampsia with severe features (62), superimposed preeclampsia (23) and eclampsia (30). All of them provided informed consent and underwent an interview and bedside ocular ultrasonography. Maternal and neonatal outcomes were registered according to medical records. For comparison between groups, analysis of variance was used for numeric variables with normal distribution and the Kruskal-Wallis test was applied in the absence of normal distribution. Chi-square test or Fisher's exact test was used for categorical variables. For all tests, a two-tailed p-value ≤ 0.05 was considered statistically significant. A review was also carried out in the PubMed, SciELO, LILACS and academic Google databases for the construction of the Training Manual in Optic Nerve Ultrasonography. RESULTS: A global comparison between the seven groups did not demonstrate a significant difference in mean DBNO (p=0,056). However, when each group was compared individually to the control group, larger diameters were found in the eclampsia group (p=0,003). Larger diameters were associated with maternal ICU admission (p=0,00002) and maternal near miss (p=0,05). There was no association between ONSD and neonatal ICU admission (p=0,1), neonatal near miss (p=0,34) or neonatal death (p=0,26). Diameters greater than 5mm were associated with headache (p=0,008), maternal ICU admission (p<0,01), delivery under 34 weeks of gestational age (p=0,01), and newborn Apgar score less than seven in the first minute of life (p=0,009). CONCLUSIONS: The ultrasonographic measurement of ONSD showed no association with the hypertensive syndromes of pregnancy in a global analysis, however, there was a significant difference between the means of the eclampsia and control groups. Larger diameters were associated with maternal ICU admission and maternal near miss. The results suggest a potential for using bedside ultrasound as an additional tool in the risk stratification of patients with hypertensive syndromes of pregnancy.