Variação temporal do perfil nutricional e funcional de mulheres idosas com câncer de mama no contexto da pandemia de Covid-19

Abstract

Cenário: Com o envelhecimento, ocorrem alterações fisiológicas de forma heterogênea que, em presença de doenças crônicas como o câncer podem ser agravadas. Em 2020, a população global enfrentou o desafio da pandemia da COVID-19 (Corona Virus Disease – 19) e todos os seus desdobramentos decorrentes, sobretudo, do isolamento social imposto que comprometeu o acesso aos serviços de saúde, interrompendo as ações de rastreamento, exames de rotina e culminando em diagnósticos mais tardios. Objetivo: comparar o perfil nutricional e funcional de pacientes idosas com câncer de mama, antes e durante a pandemia da COVID-19. Método: estudo transversal de evolução temporal no qual foram analisadas mulheres com idades ≥ 60 anos, admitidas no ambulatório de oncogeriatria do IMIP. Para fins de comparação, considerou-se o período pré pandemia de fevereiro de 2018 a fevereiro de 2020 e da pandemia março de 2020 a dezembro de 2021. Foram coletados dados secundários e selecionadas variáveis sociodemográficas, clínicas, nutricionais e de estilo de vida (tabagismo e etilismo), além de ferramentas da AGA (Avaliação Geriátrica Ampla), Para avaliação do estado nutricional foi utilizado o Índice de Massa Corporal (IMC) e a Mini Avaliação Nutricional – Versão Reduzida (MAN-VR); do estado funcional, foram selecionados a Escala Funcional de Karnofsky (KPS), o Índice de Katz, além do nível de atividade física pelo Questionário Internacional de Atividade Física (IPAQ) e do risco de queda pelo Timed Up and Go (TUG). O risco de depressão também foi rastreado pela Escala de Depressão Geriátrica (GDS). Considerou-se precoce o estadiamento do câncer de 0 a IIB e tardio acima de IIB. Utilizou-se o Stata 13.0 para a análise descritiva e, quando adequado, o teste t de Student e o qui-quadrado para comparar os períodos adotando como significâ ncia estatística um valor de p ≤ 0,05. Resultado: a amostra incluiu 234 pacientes, sendo 134 (57,3%) diagnosticadas antes e 100 (42,7%) durante a pandemia. A média de idade foi de 73,6 (DP ± 7,2), variando de 61 a 95 anos, sem diferença significativa entre os grupos. Do total de mulheres avaliadas, 62,2% foram diagnosticadas de forma precoce, e apenas 12% apresentaram metástase na admissão. Ambos os grupos seguiram as características da amostra total, sendo observado aumento de pacientes com metástases durante a pandemia (9,7 vs 15,0; p = 0,217). Em ambos os períodos, foi observada predominância de sobrepeso ou obesidade sendo 60,9%, antes da pandemia e 45,9%, no período pandêmico, com p=0,015. Em paralelo, com a MAN triagem, foi encontrada maior prevalência de pacientes em risco e desnutrição durante a pandemia (45%) quando comparado ao período pré pandêmico (23,9%) com p = 0,001. Em relação ao nível de atividade física, quase 80% das mulheres estavam inativas ou praticavam atividade física de forma insuficiente, segundo o IPAQ. Sendo constatado um aumento significativo do risco de queda durante a pandemia, de acordo com o TUG, com p < 0,020. Não houve diferença significativa para as variáveis sociodemográficas e de estilo de vida, IMC, comorbidades, polifarmácia, risco de depressão e para os demais testes da avaliação funcional realizados. Conclusão: pacientes admitidas no período da pandemia apresentaram pior estado nutricional e funcional de acordo com a MAN-VR e com o risco de queda pelo TUG quando comparadas ao período anterior ao isolamento. A prática insuficiente de atividade física foi observada em toda linha do tempo, a partir do IPAQ. Em ambos os períodos, as pacientes relataram autonomia para executar as atividades básicas de vida diária, conforme a escala de Karnofsky e o índice de Katz, além de, em sua maioria, não apresentarem depressão (pela GDS), nem polifarmácia.

Introduction: with aging, physiological changes occur in a heterogeneous way that, in the presence of chronic diseases such as cancer, can be aggravated. In 2020, the global population faced the challenge of the COVID-19 pandemic (Corona Virus Disease – 19) and all its consequences resulting, above all, from the imposed social isolation that compromised access to health services, interrupting screening actions, routine exams and culminating in later diagnoses. Objective: To compare the nutritional and functional profile of old patients with breast cancer before and during the COVID-19 pandemic. Method: a cross-sectional study of temporal evolution inserted in a cohort study in which women aged ≥ 60 years, admitted to the oncogeriatrics outpatient clinic of IMIP, were analyzed. For comparison purposes, the prepandemic period from February 2018 to February 2020 and the pandemic period from March 2020 to December 2021 were considered. Secondary data were obtained and sociodemographic, clinical, nutritional and lifestyle variables (smoking and alcohol consumption) were selected, in addition to tools from the AGA (Comprehensive Geriatric Assessment), Body Mass Index (BMI) and the Mini Nutritional Assessment – Short Form (MNA-SF) were used to assess nutritional status; of functional status, the Karnofsky Functional Scale (KPS), the Katz Index, as well as the level of physical activity by the International Physical Activity Questionnaire (IPAQ) and the risk of falls by the Timed Up and Go (TUG) were selected. The risk of depression was also tracked by the Geriatric Depression Scale (GDS). Early cancer staging was considered to be 0 to IIB and late cancer was considered above IIB. Stata 13.0 was used for the descriptive analysis and, when appropriate, Student's t-test and chi-square test were used to compare the periods, adopting a value of p ≤ 0.05 as statistical significance. Results: the sample included 234 patients, of which 134 (57.3%) were diagnosed before and 100 (42.7%) during the pandemic. The mean age was 73.6 (SD ± 7.2), ranging from 61 to 95 years, with no significant difference between the groups. Of the total number of women evaluated, 62.2% were diagnosed early and without the presence of metastasis (88%), however, during the pandemic, there was an increase in the number of patients with metastases during the pandemic (9.7 vs 15.0; p = 0.217). In the pre-pandemic period, there was a predominance (60.9%) of patients with BMI for overweight and obesity, while in the pandemic period, there were equivalent proportions of eutrophic women (42.9%) and overweight/obesity (45.9%) and this difference between the two periods was statistically significant. Considering the MNA-SF screening, a significant difference was found, with a higher prevalence of patients at risk and malnutrition (23.9% vs 45% p = 0.001) during the pandemic. According to the IPAQ, a minority of patients were considered physically active at the time of admission. According to the TUG, there was a significant increase in the risk of falling during the pandemic period (p < 0.020). There was no significant difference for age, BMI, smoking, alcohol consumption, comorbidities, polypharmacy and for the other functional assessment tests performed, as well as for the risk of depression. Conclusion: patients admitted during the pandemic period had worse nutritional and functional status according to the MAN-VR and the risk of falling according to the TUG when compared to the period before isolation. Insufficient physical activity was observed throughout the timeline, based on the IPAQ. In both periods, patients reported autonomy to perform basic activities of daily living, according to the Karnofsky scale and the Katz index, in addition to, for the most part, not having depression (according to the GDS) or polypharmacy.