Avaliação geriátrica ampla e fatores de risco para óbito precoce em pacientes idosas portadoras de câncer de mama: estudo de coorte prospectiva em um hospital do sistema público brasileiro

Abstract

Introdução: O câncer de mama (CM) é o tipo mais comum de neoplasia entre aos mulheres no Brasil e no mundo e a idade é o fator de risco mais importante para desenvolvimento de câncer. O tratamento do CM em mulheres idosas é particularmente desafiador, uma vez que mudanças fisiológicas, déficits funcionais, comorbidades e o uso de polifarmácia podem alterar o risco de toxicidade. Objetivo: Determinar os fatores de risco para morte em idosas com câncer de mama em menos de 180 dias após admissão e correlacionar com aspectos específicos deste tipo de câncer, como tipo de tratamento e perfil imunohistoquímico e elaborar um produto técnico de apoio/suporte com fins didáticos acerca do manejo do tratamento do câncer de mama na população idosa. Métodos: Foram realizados dois estudos: 1) Coorte prospectiva, em mulheres com idade ≥ 60 anos, diagnosticadas com câncer de mama, admitidas no Serviço de Oncogeriatria do IMIP entre 2015-2020. Foram avaliadas variáveis sociodemográficas, clínico-laboratoriais e 10 testes que compõem a AGA (Avaliação Geriátrica Ampla). O período de seguimento foi de pelo menos seis meses. Foram realizadas análise descritiva, bivariada através dos Teste de Fisher e Qui-Quadrado, estudo de sobrevida pelo método de Kaplan-Meier e análise univariada e foram incluídos aquelas com p <0,20 no modelo multivariada de riscos proporcionais de Cox controlado pela idade e estadiamento tumoral. 2) Estudo exploratório de elaboração de um produto técnico envolvendo o desenvolvimento de uma cartilha cuidado-educacional com orientações sobre o manejo do avaliação inicial ao tratamento do câncer de mama nas mulheres idosas. Resultados: 1) A amostra foi composta por 326 pacientes diagnosticadas com CM no período de Janeiro de 2015 a Dezembro de 2020, todas do sexo feminino, com uma média de idade de 73,46 anos (DP ± 7.81). Das 326 pacientes, 46 (14,1%) faleceram, e destas, 21 (45,7%) apresentaram quadro de infecção e 18 (39,1%) necessitaram de internação. Com relação ao subtipo imunohistoquímico tumoral, 230 (70,6%) eram luminais, 63 (19,3%), triplo negativo, 25 (7,7%), hiperexpressão de HER2. Foi realizado a avaliação univariada dos instrumentos utilizados na AGA e, após modelo multivariado de regressão de Cox, foram identificados como fator de risco para óbito: MAN-VR< 12 (HR = 2,76, IC95%, 1,49-9,48, p =0,001) e KPS ≤ 50 (HR = 4,39, IC95%, 2,03-9,48, p < 0,001). 2) Foi elaborada a cartilha intitulada “Cartilha de Recomendações do Manejo de Pacientes Idosas com Câncer de Mama” com orientações práticas sobre como conduzir a avaliação inicial e o tratamento destas pacientes que poderá ser facilmente acessível em arquivo PDF em computadores ou smartphones, auxiliando os profissionais de saúde no cuidado, promovendo melhora da qualidade de vida. Conclusões: Para melhorar a eficácia e a segurança do tratamento do CM em idosas e melhorar a sua qualidade de vida, os instrumentos da AGA devem ser aplicados rotineiramente. Nesta população, KPS e Mini Avaliação Nutricional Versão Reduzida (MAN-VR) foram identificadas como importante fatores preditivos para óbito precoce (em até 180 dias da admissão). Portanto, em pacientes idosas com CM, estes aspectos devem ser considerados no plano do cuidado oncológico a ser ofertado, bem como a avaliação para cuidados paliativos precoces concomitantes.