Hipovitaminose D em gestantes: prevalência e fatores associados em um hospital de referência no nordeste brasileiro: estudo transversal e desfechos maternos e perinatais

Abstract

Introdução: A vitamina D, em relação à gestação, é um micronutriente relevante, pelo seu efeito sobre a regulação dos genes e benefícios ao longo do ciclo vital. Sua deficiência pode influenciar adversamente no desenvolvimento placentário e na programação fetal e assim desencadear consequências graves à saúde materna e fetal e até mesmo na vida adulta do concepto. Estudos realizados em diferentes países sugerem que a deficiência de vitamina D em gestantes seja multifatorial, incluindo fatores como uso de protetor solar, localização geográfica, pigmentação da pele, hábitos culturais e aspectos nutricionais. Objetivo: Analisar a prevalência e os fatores associados à deficiência de vitamina D em gestantes assistidas no pré-natal de um hospital de referência no Nordeste brasileiro entre abril/2017 e maio/2019. Realizar revisão integrativa, com fins de identificar estudos sobre deficiência de vitamina D em gestantes e os desfechos maternos fetais/neonatais. Métodos: Estudo seccional realizado a partir do inquérito “Nutrição e infecção: o problema revisitado em função do surto de microcefalia”, mediante um estudo de coorte com 1.469 gestantes atendidas em um hospital de referência no Nordeste brasileiro, com coleta de dados entre abril/2017 e maio/2019. O estudo atual foi realizado no período entre março/2019 a fevereiro/2024, com as 1.049 gestantes do banco de dados do estudo original, que apresentavam resultado para os níveis séricos de vitamina D. A análise da prevalência e níveis de classificação de resultados foi de acordo com os critérios recomendados pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia: deficiente < 20,0 ng/mL; insuficiência de 20 a 30,0 ng/mL; e suficiente > 30,0 ng/mL. A análise foi realizada no programa Stata 12.1. As variáveis categóricas estão apresentadas em frequências absolutas e relativas. Para analisar a deficiência de vitamina D, associada às variáveis explicativas, foram ajustados modelos de regressão simples e múltipla de Poisson, estimando-se as razões de prevalência (RP) brutas, ajustadas e os respectivos IC de 95%. Foram habilitadas para realização da análise multivariada as variáveis que apresentaram valor p < 0,20 na análise univariada, e permaneceram no modelo final, aquelas com valor p < 0,05. Foi utilizado o teste de Wald para análise da significância estatística de cada variável. O inquérito foi aprovado sob o parecer de nº 2.020.481 e o estudo atual foi aprovado sob a CAAE nº 65180922.9.0000.5201, parecer de aprovação nº 5.834.119. Ambos pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Instituto de Medicina Integral Prof. Fernando Figueira. A revisão integrativa utilizou artigos publicados nos últimos 14 anos nas bases de dados SciELO Brasil, PubMed. Descritores utilizados: Deficiência de vitamina D, Gravidez,

Vitamina D. Norteada pela pergunta: a deficiência de vitamina D pode acarretar desfechos desfavoráveis à mãe e ao concepto ou à insuficiência para o feto / recém-nascido? Critérios para seleção dos artigos: deficiência de vitamina D em gestantes, nos fetos e recém-nascidos e a presença de pré-eclâmpsia, diabetes mellitus gestacional, prematuridade e deficiência de vitamina D em fetos e RN. A revisão bibliográfica foi atualizada em janeiro de 2024, com artigos em inglês, português ou espanhol. Resultados: A prevalência de DVD nas gestantes foi de 61,8%. Em relação à associação entre deficiência de vitamina D e as variáveis biológicas, socioeconômicas, obstétricas, assistenciais e do estado nutricional antropométrico das gestantes, permaneceram no modelo final multivariado de Poisson a raça preta/parda (p = 0,031), 12 anos ou mais de estudos (p = 0,008), ocupação remunerada (p = 0,014), secundigesta e multigesta (p = 0,009), sobrepeso e obesidade (p = 0,002). Após a realização da revisão integrativa, sobre deficiência de vitamina D em gestantes e os desfechos maternos fetais/neonatais, foram identificados 758 artigos, e de acordo com os critérios de elegibilidade, elencados 08 para apresentação dos desfechos maternos fetais/neonatais. Encontrados desfechos negativos na gestante: pré-eclâmpsia e diabetes mellitus gestacional; no feto e concepto: deficiência de vitamina D e prematuridade; assim como que a deficiência de vitamina D materna pode influenciar nas doenças da primeira infância e na idade adulta. Conclusão: A prevalência de hipovitaminose D nas gestantes foi encontrada em mais da metade da população estudada. Gestantes que se auto-referiram da raça preta/parda quando comparadas com a raça branca, com 12 anos ou mais de estudo quando comparadas às que tinham até 8 anos, trabalho com remuneração, ter tido uma ou mais gestações anteriores e estarem na classificação de sobrepeso ou obesidade, possuem razão de prevalência maior para apresentarem deficiência/insuficiência de vitamina D. Esses resultados podem, também, refletir que o nível de conhecimento destas, adquiridos pelos anos de estudo, pode trazer a conscientização em relação a cuidados com a pele, como também a pigmentação da pele associada ao tempo em ambientes fechados, uso de protetor solar, possibilitem, a dificuldade da síntese de VD na epiderme, sua principal fonte de aquisição. Em relação à revisão integrativa, nesta, foi identificada à relação da deficiência de vitamina D em gestantes com pré-eclâmpsia, diabetes mellitus gestacional, prematuridade e deficiência de vitamina D em fetos e RN filhos de mães com deficiência de vitamina D e que a DVD materna pode influenciar nas doenças da primeira infância, bem como em doenças na idade adulta.