Efetividade da alcoolização intraluminal na prevenção da infecção relacionada ao cateter venoso central de curta permanência em pacientes pediátricos: um ensaio clínico randomizado

Abstract

Introdução: a infecção de cateter venoso central (CVC) é uma complicação comum em pacientes pediátricos, sendo responsável, muitas vezes, pelo prolongamento no tempo de internamento, necessidade de antibióticos, novos procedimentos invasivos para substituição do sítio do acesso venoso central e, determinando assim um aumento da morbimortalidade. Dada a repercussão desta complicação, medidas que possam diminuir sua incidência devem ser estimuladas. Nesta direção, o ethanol-lock (EL) tem sido relatado na literatura como efetivo na prevenção da infecção relacionada aos cateteres de longa permanência em pacientes adultos e pediátricos, mas com poucos ensaios clínicos em pacientes pediátricos e ausência de estudos em relação aos CVC não tunelizados. Objetivos: avaliar a efetividade da alcoolização intraluminal na prevenção da infecção primária de corrente sanguínea relacionada ao cateter venoso central não tunelizado em pacientes pediátricos, seus efeitos adversos e os efeitos mecânicos do etanol sobre o cateter. Métodos: ensaio clínico randomizado com crianças com idade de zero a cinco anos e peso a partir de dois quilogramas, em uso de CVC de duplo lúmen, de poliuretano não tunelizado, adequadamente posicionado e implantado no máximo 24 horas antes da admissão no estudo. Foram excluídos: pacientes com cateteres que não foram implantados no bloco cirúrgico ou nas unidades de terapia intensiva ou com cateteres inseridos em situação de emergência; pacientes graves que necessitavam de uso ininterrupto de ambos os lúmens do CVC para infusão contínua de terapêutica venosa; ou pacientes com história de hipersensibilidade, reação ou alergia ao etanol. Os pacientes foram divididos em dois grupos: grupo ethanol-lock (G-EL) e grupo controle (GC). As variáveis avaliadas foram: infecção primária de corrente sanguínea relacionada ao CVC (IPCS/CVC), agentes etiológicos envolvidos, efeitos adversos e efeitos mecânicos do etanol sobre o cateter (fratura e obstrução). Para determinar a associação entre a variável independente e as dependentes foram utilizados os testes qui-quadrado de associação (Pearson) e exato de Fisher. Quando pertinente foi calculada a razão de risco (RR) como medida de risco relativo, com seu intervalo de confiança a 95% (IC95%) e adotado nível de significância de 5%. As taxas de sobrevida foram calculadas usando o método de Kaplan-Meier e as curvas de sobrevida foram comparadas usando o teste de log-rank (Mantel-Cox). Resultados: foram analisadas 74 crianças (35 no G-EL e 39 no GC). A frequência percentual de IPCS/CVC foi menor no grupo do EL quando comparado ao grupo controle (p= 0.0177), porém ao se avaliar IPCS/CVC por 1000 cateter-dias, não encontramos evidência de diferença significativa entre os grupos (p= 0.077). A frequência de efeitos adversos e fratura de cateter foi maior no G-EL (p= 0.0001 e 0.0005, respectivamente) e a análise da curva de sobrevida livre de infecção demonstrou uma interposição das curvas até aproximadamente 10-15 dias, a partir do qual o G-EL manteve uma sobrevida livre de infecção maior do que no GC até o 20o dia de permanência do cateter, mas sem diferença significativa (p=0,329). Conclusão: o percentual de IPCS/CVC reduziu de forma estatisticamente significante no G-EL comparado ao GC, mas a análise da densidade de incidência não evidenciou diferença estatisticamente significante entre os grupos, necessitando de mais estudos que possam estabelecer o real papel do EL na prevenção de IPCS/CVC, bem como, avaliem a sua repercussão sobre a integridade do cateter.