Estimulação elétrica nervosa transcutânea para tratamento de urgência ou urge-incontinência urinária em crianças e adolescentes: ensaio clínico fase II

Abstract

Introdução: Disfunção do Trato Urinário Inferior (DTUI) é o termo utilizado para definir as alterações relacionadas ao trato urinário inferior em crianças sem alterações neurológicas. Na criança quando ocorre um atraso da aquisição da inibição cortical ocorre o aumento das contrações detrusoras na fase de enchimento, podendo dar início a alguns sintomas como urgência, urge-incontinência e enurese noturna. O tratamento inicial pode ser realizado com tratamento comportamental, medicamentoso e a estimulação elétrica nervosa transcutânea (TENS). A TENS tem como vantagem o método não ser invasivo porém o número e a periodicidade das sessões ainda não está bem estabelecido. Objetivo: Determinar a efetividade de 20 sessões de estimulação elétrica nervosa transcutânea (TENS) parassacral com periodicidade de duas vezes semanais no tratamento da urgência ou urge-incontinência urinária em crianças e adolescentes. Métodos: Ensaio clínico fase II em crianças e adolescentes com idade entre 5 a 14 anos com diagnóstico de urgência ou urge-incontinência urinária. Foram excluídas aquelas com anormalidades anatômicas da bexiga decorrente de válvula de uretra posterior, ureterocele e bexiga neurogênica. Além das informações sócio demográficas, foi solicitado aos responsáveis pelas crianças e/ou as crianças para responderem a questionário sobre a história clínica do paciente: início e frequência dos sintomas de urgência e urge-incontinência, se o aparecimento dos sintomas estava associado a evento considerado traumático (por exemplo: separação ou perda familiar ou do responsável, nascimento de irmã/o), presença ou não de constipação intestinal. Foram realizadas 20 sessões de estimulação elétrica nervosa transcutânea, duas vezes por semana, com aparelho Dualpex 961®. Para avaliação dos resultados foi utilizado diário miccional e parâmetros da ultrassonografia do trato urinário inferior dinâmica antes e após as 20 sessões. Um questionário para avaliar a perda urinária foi obtido a cada sessão. A análise estatística foi realizada pelos Softwares SPSS 13.0. E todos os testes foram aplicados com 95% de confiança. Resultados: A idade média das crianças foi de 7,80 ± 2,22 anos com predominância do sexo feminino (92%). De acordo com os registros do diário miccional a comparação dos sintomas de urgência antes do tratamento (25,4%) quando comparados com pós-tratamento (16,8%) foi estatisticamente significativa (p=0,040). Na ultrassonografia dinâmica do trato urinário inferior foram observadas contrações detrusoras em 62,5% das crianças antes do tratamento e em 43,5% delas após a vigésima sessão; o volume vesical pré-miccional foi adequado em 4,2% comparado com 19,0% respectivamente antes e após tratamento por eletroestimulação, no entanto não foi estatisticamente significativo. Metade dos pacientes apresentou regressão da incontinência urinária a partir da 12ª sessão. E no final do tratamento os pacientes que fizeram todas as sessões não apresentaram mais incontinência urinária durante três meses. Conclusões: A eletroestimulação realizada em duas sessões semanais demonstrou efetividade, porém é necessário aumentar o número de pacientes para uma maior confiabilidade dos resultados obtidos. Palavras chaves: incontinência urinária; incontinência urinária de urgência; estimulação elétrica nervosa transcutânea.