Validação do escore fullpiers para avaliação prognóstica de mulheres com pré-eclâmpsia grave: um estudo de acurácia

Abstract

Introdução: as síndromes hipertensivas representam uma complicação comum da gestação, constituindo a segunda causa de morte materna no mundo (em torno de 18%) e a primeira no Brasil (20%). Entre as diferentes formas de síndormes hipertensivas da gestação se destaca a pré-eclâmpsia como um dos principais diagnósticos. O risco de morte nessas pacientes aumenta na presença de complicações e o tratamento definitivo da pré-eclâmpsia é o parto. A aplicação de escores tem como objetivo identificar mulheres com potencial para complicações associadas à pré-eclâmpsia, direcionando de forma mais adequada os cuidados e os recursos para as pacientes. Objetivo: avaliar a acurácia do escore fullPIERS para predição de morbidade/ mortalidade em pacientes com pré-eclâmpsia grave no Nordeste do Brasil. Métodos: realizou-se um estudo longitudinal, tipo coorte retrospectivo e de acurácia no Instituto de Medicina Integral Prof. Fernando Figueira-IMIP no período de janeiro a dezembro de 2014, incluindo pacientes com pré-eclâmpsia grave e excluindo aquelas com hipertensão crônica e com doenças associadas (diabetes, anemia falciforme, colagenoses, doenças hematológicas, pulmonares e cardíacas). As variáveis de análise foram as características biológicas, sociodemográficas, obstétricas e clínicas e os exames laboratoriais. As variáveis preditoras e de desfechos foram o escore fullPIERS e as complicações (maternas e perinatais), respectivamente. A aplicação do escore fullPIERS ocorreu no momento da admissão, sendo o resultado dado em percentual referente a probabilidade de desfechos maternos adversos. Foi construída uma curva Receiver Operator Curve (ROC), calculando-se a Área Sob a Curva (AUC) com o seu intervalo de confiança a 95% para avaliar o desempenho do escore, selecionando-se o ponto de corte com melhor acurácia. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa em seres humanos da instituição sob o Nº 3883-13, CAAE: 20289613.4.0000.5201. Resultados: das 325 mulheres incluídas 55 apresentaram uma ou mais complicações (16,9%), não houve mortes maternas. Não foram encontradas diferenças entre os grupos em relação a idade materna, cor ou raça, procedência, estado conjugal, escolaridade, ter uma ocupação, número de gestações e a paridade. Todavia, as mulheres com complicações tinham pressão arterial sistólica e pressão arterial diastólica significativamente mais altas na admissão (p=0,02 e p=0,04 respectivamente), apresentavam contagem de plaquetas significativamente mais baixa (149.000/mm3 x 221.000/mm3; p<0,001), além de dosagem de creatinina (0,75mg% x 0,64mg%; p<0,001) e aspartato aminotransferase (35,1 U/L x 23,8 U/L; p<0,001) significativamente mais altas do que aquelas sem complicações. Avaliando a curva ROC, a AUC foi de 0,72 (0,67–0,77; p<0,0001), encontrando-se como ponto de corte ideal o valor >1,7%. Com esse valor, obteve-se uma sensibilidade de 60%, especificidade de 65,2%, valor preditivo positivo (VPP) de 25,98%, valor preditivo positivo (VPN) de 88,9%, razão de verossimilhança positiva (RVP) de 1,72% e razão de verossimilhança positiva (RVN) de 0,61%. Após análise multivariável através de regressão logística múltipla, a única variável que persistiu significativamente associada com as complicações maternas foi o escore fullPIERS maior que 1,7% (OR=5,87; IC 95%=3,16–10,89). Conclusões: o modelo fullPIERS é uma ferramenta efetiva, tendo boa acurácia para predizer complicações durante o internamento hospitalar de mulheres com diagnóstico de pré-eclâmpsia grave.