Fatores de risco para internamento prolongado por bronquiolite aguda: um estudo de coorte

Abstract

INTRODUÇÃO: A bronquiolite aguda é uma infecção do trato respiratório inferior que acomete lactentes, sendo a principal causa de internação em menores de dois anos nos Estados Unidos. Muitos lactentes experimentarão pelo menos um episódio de bronquiolite aguda, enquanto que 2-3% de todas as crianças necessitarão de hospitalização durante o primeiro ano de vida. O quadro clínico da bronquiolite aguda é variável e dinâmico. Dentre os possíveis agentes etiológicos, destacam-se os vírus. Estudos com crianças hospitalizadas por bronquiolite aguda identificaram uma frequência de até 75% do vírus sincicial respiratório, enquanto a incidência de dois ou mais patógenos varia de 10% a 30%. Em relação ao tempo de internamento hospitalar por essa afecção, o mesmo varia de um a três dias na maioria dos estudos. Na literatura, não há consenso sobre a associação do patógeno respiratório com mais dias de internamento hospitalar. Nesse contexto, o vírus sincicial respiratório parece determinar uma permanência hospitalar prolongada em crianças com bronquiolite aguda. Quanto à co-detecção viral e sua associação com tempo de internamento prolongado, também não há dados bem estabelecidos na literatura. OBJETIVOS: O objetivo deste estudo foi analisar os fatores de risco para tempo de internamento hospitalar maior que três dias em crianças menores de dois anos internadas por bronquiolite aguda em um hospital terciário no nordeste do Brasil, assim como determinar se a identificação do vírus sincicial respiratório e co-detecção de patógenos respiratórios estavam associadas a tempo de internamento hospitalar prolongado. MÉTODOS: Estudo de coorte com crianças menores de 24 meses com bronquiolite aguda atendidas na emergência pediátrica do Instituto de Medicina Integral Prof. Fernando Figueira, entre abril de 2008 a março de 2009. Excluiu-se do estudo crianças portadoras de cardiopatia congênita, malformação intra ou extratorácica associada à alteração pulmonar e/ou imunodeficiência. Através da reação em cadeia da polimerase com transcrição reversa multiplex foram detectados 17 diferentes patógenos respiratórios em aspirado nasofaríngeo: vírus sincicial respiratório, metapneumovírus, vírus parainfluenza 1, 2, 3 e 4, vírus influenza A e B, bocavírus, adenovírus, coronavírus subtipos 229E, NL63, OC43 e KHU1, rinovírus, Mycoplasma pneumoniae e Chlamydia pneumoniae. A variável de desfecho foi tempo de internamento hospitalar prolongado e as variáveis preditoras foram relacionadas às características sócio-demográficas, antecedentes pessoais e sinais da doença atual dos pacientes. RESULTADOS: A mediana da idade dos 106 pacientes envolvidos foi de quatro meses. Foram encontradas amostras positivas para patógenos respiratórios em 89,6% dos casos e co-detecção em 41,5% dos pacientes. O vírus sincicial foi o mais prevalente, estando presente em 43,4% dos casos. A mediana de tempo de permanência hospitalar foi três dias (intervalo interquartil 2-4,25). Observou-se tempo de hospitalização prolongado (maior que três dias) em 42,5% (45/106) dos pacientes. Após análise bivariada, realizou-se análise multivariada com as variáveis que tiveram p < 0,25 e foram encontrados como fatores preditivos estatisticamente significativos para tempo de internamento prolongado: prematuridade (RR 4,4 IC95% 1,6-12,4), idade menor ou igual a três meses (RR 3,3 IC95% 1,2-9,1) e saturação transcutânea periférica de oxigênio inferior a 90% na admissão (RR 15,6 IC95% 3,6-68,4). CONCLUSÕES:Tempo de internamento hospitalar prolongado por bronquiolite aguda independe da presença do vírus sincicial e da co-detecção de patógenos respiratórios. Evidenciou-se a saturação transcutânea de oxigênio inferior a 90% na admissão hospitalar como fator preditivo mais importante para internamento com duração maior que três dias.