Perfil epidemiológico, clínico e laboratorial das mulheres com neoplasia anal associada à neoplasia cervical em um serviço de assistência terciária do nordeste do brasil – estudo descritivo

Abstract

CENÁRIO: há um crescimento global das taxas de incidência das neoplasias anais induzidas pelo HPV, principalmente em mulheres. Nota-se aumento da prevalência de lesões anais, sobretudo, em mulheres com neoplasias cervicais. No Brasil temos poucos estudos relativos ao perfil epidemiológico, clínico e achados da citologia anal, anuscopia de alta resolução e histopatológico anal dessas mulheres. OBJETIVOS: descrever o perfil epidemiológico, clínico e laboratorial das mulheres com neoplasia anal associada à neoplasia cervical. Descrever as características biológicas e sociodemográficas, sexuais, reprodutivas e de hábitos de vida os achados clínicos e laboratoriais e determinar a frequência dos achados citológicos, colposcópicos e histopatológicos anais na amostra pesquisada. MÉTODO: foi realizada análise descritiva do banco de dados, do estudo tipo corte transversal, que foi conduzido entre dezembro de 2008 a janeiro de 2016. Foram incluídas as mulheres com diagnóstico de lesão intraepitelial ou câncer de colo do útero. Foram excluídas as mulheres em tratamento de radioterapia (RAD) ou quimioterapia (QT) para neoplasia invasiva cervical, portadoras de doença mental e mulheres carcerárias. As pacientes responderam a questionário específico e, após consentimento, foram submetidas a citologia anal, anuscopia de alta resolução e biópsia para estudo histopatológico. A análise estatística foi realizada no programa de domínio público Epi Info 7 (CDC, Atlanta, EUA), obtendo-se medidas de tendência central e de dispersão e tabelas de distribuição de frequência. RESULTADOS: as mulheres com diagnóstico de neoplasia intraepitelial anal e cervical do estudo são jovens (mediana de 33 anos), não-brancas em 68% dos casos, de baixa renda (renda média mensal menor que um salário mínimo em 69,6%) e baixa escolaridade (mediana de 6 anos). Tem união estável em sua maioria e moram em centros urbanos (55,2% e 71,8%, respectivamente). Com relação às características sexuais e reprodutivas, as mulheres apresentaram coitarca precoce (metade dos casos antes dos 16 anos), com prática de relação anorreceptiva e relações desprotegidas, em 73% e 84% das vezes respectivamente. A clínica de sangramento ocorreu em 7% e prurido em 11%, sendo pouco sintomáticas as lesões. Teste para HIV foi positivo em 10%. Há relatos de condilomas anais, mas em baixa frequência. A maioria referiu até dois partos (. Tabagismo e consumo e álcool em frequência alta. A citologia anal foi anormal em 92% da amostra do estudo. A anuscopia de alta resolução foi anormal em todos os casos e o histopatológico evidenciou 32% de lesão de alto grau e três casos de carcinoma invasor. Na AAR, o achado mais comum foi de epitélio acetobranco (89,5%). Já o histopatológico demonstrou NIA 1 em 41,4%, NIA 2 em 18,8%, NIA 3 em 12,7% e três casos de carcinoma anal invasor. CONCLUSÃO: mulheres com diagnóstico de neoplasia anal e cervical frequentemente são jovens, não-brancas, têm coitarca precoce, praticam relação anorreceptiva desprotegida, moram em centros urbanos e são de baixa renda e baixa escolaridade.