Pneumonia comunitária em menores de cinco anos na era pós-vacina pneumocócica conjugada –características clínicas e fatores de risco

Abstract

Introdução: A pneumonia adquirida na comunidade é causa de morbimortalidade na infância e está associada a fatores de risco. A introdução da vacina pneumocócica 10-valente conjugada, no Brasil, a partir de 2010, suscitou questionar uma possível mudança dos fatores de risco para pneumonia. Com essa pergunta condutora, o objetivo geral desta tese foi descrever as características demográficas e clínicas das crianças com idade entre um mês e cinco anos, internadas com pneumonia de acordo com a gravidade e identificar fatores de risco para pneumonia grave, após a introdução da vacina pneumocócica 10 valente conjugada no Brasil, em um hospital de referência do Nordeste. Métodos: A pesquisa incluiu dois estudos em amostras de crianças com idade de 30 dias a 59 meses. O primeiro teve desenho transversal, prospectivo, para descrever características epidemiológicas e clínicas das pneumonias adquiridas na comunidade. O segundo estudo foi caso-controle, prospectivo, de base hospitalar objetivando identificar fatores de risco para pneumonia nessa população. Procedeu-se ao cálculo do tamanho amostral para o segundo estudo, determinando a inclusão de 452 crianças no grupo caso, hospitalizadas por pneumonia, e 407, no grupo controle, internadas para cirurgia pediátrica ambulatorial. Os casos tiveram diagnóstico clinico e radiológico de pneumonia pelos critérios da Organização Mundial de Saúde. Foram excluídas crianças com comorbidades. No primeiro estudo, analisaram-se variáveis dos casos relacionadas a antecedentes clínicos, estado nutricional, calendário vacinal, diagnóstico, curso da doença, prognóstico e tratamento,. No segundo estudo, realizou-se análise multivariada, pelo método forward, incluindo variáveis com nível de significância igual ou menor que 0,20 em análise bivariada. Permaneceram no modelo final, fatores associados à pneumonia com nível de significância de 0,05. Resultados: No primeiro estudo, aproximadamente 70% das crianças eram menores de dois anos, sem diferenças entre sexos. A renda familiar foi de até um salário mínimo em metade das famílias e cerca de 40% das mães tinham o ensino médio completo. Apenas 10% das crianças apresentavam inadequação peso/idade. A adequação do esquema vacinal tanto para influenza como Pneumo 10 V ocorreu em torno de 50%. O primeiro atendimento médico ocorreu após mais de 72 horas do inicio dos sintomas em 42%. A pneumonia foi classificada como grave ou muito grave em 83,9% dos pacientes e, complicada, em 23%. A letalidade foi de 1,5%. A hipóxia foi diagnosticada em 51,5% das crianças, parecendo bem predizer o prognóstico. A mediana da duração do internamento foi de cinco dias. No segundo estudo, constatou-se, por análise bivariada, que os fatores de risco tradicionais para pneumonia como internamento anterior, baixo peso para idade, renda familiar insuficiente, idade materna menor de 19 anos, baixa escolaridade materna, tabagismo em casa ou materno se associaram a maior chance de pneumonia, porém, na analise multivariada, permaneceram no modelo exclusivamente aglomeração familiar (OR=2,08), ausência da vacina para o vírus influenza (OR=3,7) e sexo masculino (OR=0,57). Concluiu-se que os fatores de risco para pneumonia sofreram modificações, associadas à transição epidemiológica nos últimos anos, porém os resultados precisam ser confrontados com estudos etiológicos e caso-controle, com inclusão de fatores de risco ainda não estudados. Palavras-chave: Pneumonia. Crianças. Fatores de Risco. Epidemiologia Descritiva. Vacinas Pneumocócicas. Vacinas contra Influenza.