Acurácia prognóstica do g8 modificado em pacientes oncológicos brasileiros com idade igual ou superior a 60 anos

Abstract

Introdução: No envelhecimento, processo biológico heterogêneo, há redução na capacidade de homeostase e tendência a desequilíbrios, assim como maior prevalência de comorbidades, a exemplo das neoplasias. Frequentemente, pacientes geriátricos oncológicos são pouco incluídos em pesquisas para desenvolvimento de novos fármacos ou guias de conduta terapêuticos. Identificar idosos que podem ser tratados com terapia padrão é de suma importância. Para tal, existem instrumentos de triagem, a exemplo do G8 modificado, desenvolvidos para identificar pacientes oncológicos com idade ≥ 70 anos que não demandariam avaliação complementar, através da Avaliação Geriátrica Ampla (AGA). O instrumento de triagem G8 modificado é de fácil aplicabilidade, apresenta acurácia satisfatória e não requer ferramentas adicionais para operacionalização. Entretanto, seu valor prognóstico para óbito precoce não foi avaliado. Objetivo: Avaliar acurácia prognóstica para óbito precoce (em até 6 meses) do instrumento G8 modificado em pacientes oncológicos idosos (≥ 60 anos) brasileiros. Métodos: Utilizaram-se dados de coorte prospectiva com participantes de idade igual ou superior a 60 anos e diagnóstico recente de neoplasias sólidas, acompanhados em ambulatório de oncologia geriátrica, entre 2015 e 2017. Foram obtidos dados sociodemográficos, clínicos e laboratoriais; e AGA, através de doze ferramentas específicas e validadas. Inferiu-se dos dados primários, a pontuação do G8 modificado que adota 6 como ponto de corte, considerando normal menor que 6, ou anormal, maior ou igual a 6. O desfecho primário analisado foi o óbito precoce (ocorrido em até 6 meses). Discriminou-se acurácia do G8 modificado como preditor de óbito precoce considerado como padrão ouro. Através da análise bivariada e multivariada de Cox foi determinado o risco para o óbito precoce (Hazard Ratio – HR bruto e ajustado) de acordo com a classificação no G8 modificado. A sobrevida global foi estimada pelo método de Kaplan-Meier e para a comparação de acordo com a categorização das pontuações obtidas utilizou-se o teste de log-Rank. Resultados: Dos 889 participantes incluídos na coorte prospectiva, 537 (60%) apresentavam G8 modificado ≥ 6 (anormal). O escore médio global obtido foi 9,9 ± 8,4; idade média encontrada foi 72,5 anos (extremos de 60-97 anos), 38% possuíam entre 60 e 70 anos. Eram do gênero masculino 52% dos participantes; sítios tumorais mais comuns foram próstata (31%), mama (16%), seguido das neoplasias do sistema digestório e ginecológicos (ambos com 11%). Ao analisar acurácia prognóstica encontrou-se: sensibilidade 91,7% (IC95% 86-95,7), especificidade 45,7% (IC95% 42,1-49,4), valor preditivo positivo 24,8% (IC95% 21,2-28,6) e negativo 96,6% (IC95% 94,1-98,2), área sob curva ROC 81,7% (IC95% 77,9-85,4). O HR bruto para óbito precoce entre os que tiveram pontuação anormal foi 8,3 (IC95% 4,6-14,9) e o HRa controlado pela idade, sítio tumoral e doença metastática ao diagnóstico foi 4,5 (IC95% 2,5-8,3) vezes maior e a sobrevida foi menor (log-Rank p 0,001). Conclusões: O instrumento de triagem G8 modificado apresentou acurácia satisfatória como instrumento de triagem preditor de óbito precoce em população oncológica idosa (≥ 60 anos) acompanhada em instituição nordestina brasileira. Seria possível reduzir em cerca de 40% os pacientes que seguiriam com Avaliação Geriátrica Ampla, racionalizando tempo e recursos em saúde, dando celeridade ao tratamento individualizado.