Desempenho ocupacional e qualidade de vida de mulheres durante o tratamento do câncer de mama

Abstract

INTRODUÇÃO: com o progresso terapêutico, o câncer de mama vem deixando de ser uma doença frequentemente fatal e assume características de uma doença crônica. A melhora da expectativa de vida junto à população feminina com câncer de mama se contrapõe a uma alteração no estado de saúde global, uma vez que a neoplasia e os tratamentos propostos causam um grande impacto na vida dessas mulheres. Os eventos adversos do tratamento oncológico nem sempre são passíveis de controle e quando não manejados adequadamente podem determinar comprometimento do desempenho ocupacional e piora na qualidade de vida relacionada à saúde (QVRS). OBJETIVOS: Descrever o desempenho ocupacional e verificar a sua associação com a QVRS de mulheres com câncer de mama durante o tratamento oncológico. MÉTODOS: estudo transversal analítico desenvolvido no Centro de Tratamento e Diagnóstico de Câncer de Mama do Instituto de Medicina Integral Prof. Fernando Figueira (IMIP), no período de setembro a dezembro de 2015. Foram aplicadas fichas de identificação para caracterização da amostra do estudo e para avaliação do desempenho ocupacional e da QVRS, os instrumentos utilizados foram a Medida Canadense de Desempenho Ocupacional – COPM e os questionários European Organization for Research and Treatment of Cancer – EORTC QLQ-C30 e Breast Specific Module – BR-23. Foi utilizado o software Statistical Package for the Social Sciences (SPSS), versão 20.0 para a análise descritiva da população em estudo, e para a avaliação da associação entre os escores de desempenho ocupacional e os de domínios de QVRS foi realizada a regressão linear múltipla. RESULTADOS: Entre as 100 mulheres que participaram do estudo, a mediana de idade foi 53 anos. As pacientes estavam sendo acompanhadas no local do estudo por um período igual ou maior a um ano. A maioria das pacientes tinha tempo de escolaridade menor ou igual a oito anos, possuía filhos e não tinha companheiro no momento da pesquisa. A fonte de renda das entrevistadas era advinda com maior frequência de benefício auxílio doença e 83% das mulheres possuíam renda per capita menor ou igual a um salário mínimo. As ocupações pregressas citadas envolveram: atividades do lar, trabalhadora doméstica, vendedora e auxiliar administrativa. Durante o tratamento oncológico, 19% das mulheres mantiveram alguma atividade remunerada e 45% interromperam estas atividades. As mulheres vivenciaram uma baixa performance (realizam mas precisam de ajuda) e insatisfação quanto ao desempenho de suas atividades levando a um comprometimento na QVRS. Na regressão múltipla, após ajuste, cada aumento de um ponto no escore de desempenho melhora 2,86 pontos no escore de Função Social do EORTC QLQ-C30 (p=0,04). A satisfação (domínio da COPM) foi associada à QVRS nos domínios da Escala Funcional: Desempenho de Papéis, Função Emocional e Função Social; e na Escala de Sintomas no domínio Perda de Apetite. No BR23, a satisfação foi estatisticamente associada à QVRS na Escala Funcional e no domínio Imagem Corporal. CONCLUSÃO: as participantes do estudo apresentaram prejuízo no desempenho ocupacional, com limitações e/ou restrições nas atividades de autocuidado, produtivas e de lazer, que se associaram com pior QVRS. O estudo pode contribuir no manejo das dificuldades enfrentadas durante o tratamento do câncer de mama, em uma vertente do cuidado integral, possibilitando um olhar sobre o impacto causado pelo adoecimento e tratamento oncológico na vida cotidiana das mulheres, que deixam de desempenhar seus papéis ocupacionais e passam por momento de dependência física e emocional.