A compreensão da comunicação entre os profissionais e sua relação com a coordenação da atenção

Abstract

Introdução: A organização da assistência à saúde em redes de atenção é fundamental para a qualidade e continuidade do cuidado. Sistemas integrados, capazes de garantir a continuidade assistencial, estarão mais capacitados para o cuidado às condições crônicas. Esses agravos têm níveis de prevalência crescentes em todo o mundo e necessitam de um sistema que forneça uma resposta contínua para subsidiar a atenção necessária. A coordenação da atenção é essencial para o cuidado aos portadores de doenças crônicas não transmissíveis, pois fortalece o sistema de saúde e favorece o cuidado integral ao usuário. Os processos comunicacionais, diálogos, conflitos e contradições podem auxiliar na produção do entendimento entre os indivíduos e tornam possível construir e renovar visões do mundo e do cuidado. Essa rede de conversação entre gestores, profissionais e usuários permite a relação entre a interdependência, a integração e a coordenação. Objetivo: Compreender o papel da comunicação entre os profissionais na efetivação da coordenação da atenção entre níveis assistenciais. Método: Trata-se de uma pesquisa avaliativa de caráter qualitativo. A coleta das informações se deu a partir da escuta e releitura das entrevistas realizadas no município de Caruaru, na etapa qualitativa da pesquisa “Impacto de estratégias de integração da atenção no desempenho das redes de serviços de saúde em diferentes sistemas de saúde da América Latina- Equity- LA II”. Foram entrevistados médicos da Atenção Básica (AB) e Especializada (AE) e apoiadores de território da rede municipal de saúde. As informações coletadas foram classificadas segundo categorias e subcategorias relacionadas à coordenação e desvelados os antagonismos e as contradições que compõem as relações sociais, bem como suas consequências, a partir do referencial teórico da Hermenêutica dialética. Resultados: Os resultados mostraram que os profissionais dos dois níveis da atenção não reconhecem a AB como ordenadora do cuidado. Os especialistas consideram as referências mal preenchidas e demonstram falta de confiança e de reconhecimento em relação ao médico da AB que por sua vez revelam não receber a contrarreferência e a existência de dificuldade de contato com o especialista. Profissionais dos dois níveis revelam a existência de poucos mecanismos de articulação entre níveis instituídos e a utilização de mecanismos informais para esse fim. Médicos de ambos os níveis referem que há excesso de demanda de pacientes e limitações de consultas especializadas e exames, aspectos que dificultam o exercício do seu papel e o acesso dos usuários aos serviços. Para aperfeiçoar a coordenação da atenção foi sugerida a melhoria da comunicação entre médicos, entre médicos e gestores, e médico-paciente e a adequada utilização da referência e contrarreferência. A boa vontade dos profissionais foi identificada como característica facilitadora dessa articulação. Os resultados encontrados permitiram a ampliação do olhar para a complexidade das relações entre as pessoas envolvidas no processo do cuidar e de como as relações dialógicas, estabelecida ou não entre elas, podem influenciar na coordenação da atenção entre os níveis assistenciais. Ao perceber as fragilidades comunicacionais torna-se premente pensar estratégias para que de fato existam encontros entre usuário e trabalhador e entre trabalhadores da saúde.