Efetividade do treinamento de hanseníase em três municípios do estado de pernambuco: a visão de profissionais da estratégia saúde da família

Abstract

Cenário: O Brasil encontra-se em terceiro lugar no mundo em casos de hanseníase e o estado de Pernambuco é prioritário para controle da doença no País. A capacitação é uma das estratégias centrais para reduzir a prevalência da endemia. A Secretaria Estadual de Saúde de Pernambuco (SES-PE), nos últimos três anos, intensificou a realização de treinamentos, mas nunca avaliou a efetividade desta intervenção. Objetivo: Avaliar como os profissionais treinados da Estratégia Saúde da Família (ESF) percebem e interpretam os efeitos do treinamento de hanseníase. Método: Estudo qualitativo baseado na Teoria da Ação Comunicativa de Habermas que utilizou modelo teórico-lógico da efetividade do treinamento de hanseníase fundamentado em Borges-Andrade e Abbad, desenvolvido em três munícipios da Região Metropolitana do Recife: Olinda, Jaboatão dos Guararapes e São Lourenço da Mata, selecionados por ser hiperendêmico ou de alta endemicidade para hanseníase, fazer parte do Programa de Enfrentamento às Doenças Negligenciadas e contar com profissionais da ESF treinados nos últimos dois anos. Foram selecionados profissionais que participaram do treinamento em clínica de hanseníase ministrado, em 2011, pela SES-PE. Em abril de 2013, foram realizados seis grupos focais, por município e categoria profissional, totalizando 22 médicos e 33 enfermeiras. Uma equipe composta por mediador, observador e relator efetuou coleta de informações. As gravações foram transcritas na íntegra. Os temas do roteiro e da análise referiram-se às reações ao treinamento, aprendizagem, transferência de aprendizagem e resultados organizacionais. Buscou-se compreender os sentidos manifestos e latentes para encontrar elementos comuns e variantes dentro e entre os grupos. Respeitaram-se os princípios éticos em pesquisa com seres humanos. Resultados: Foram recorrentes opiniões positivas sobre desempenho do instrutor, material didático e desenvolvimento de atitude de alerta à ocorrência de casos, e negativas sobre falta de ensino prático, grande volume de informação em curto tempo e pouca ênfase em conteúdos básicos. A percepção de baixa autoeficácia e baixo locus de controle, de ambiguidade e conflito de competências comprometia desempenho individual e coletivo. Na visão geral faltava suporte à transferência de aprendizagem com as instituições distanciadas das necessidades de pacientes e equipes. Não foram identificadas, entre municípios, diferenças importantes nas opiniões sobre efeitos individuais do treinamento, mas num destes os profissionais tinham maior conhecimento da situação epidemiológica da hanseníase, dispunham de kit para exame de sensibilidade e de mais apoio dos serviços de referência para diagnóstico. As enfermeiras mostravam maior insatisfação com suporte organizacional. Os médicos, sobretudo, questionavam a adequação da descentralização das ações. Conclusão: Os efeitos individuais e organizacionais ficaram aquém do esperado, mostrando a baixa efetividade do treinamento. O que aponta a necessidade de negociar processos de capacitação estruturados a partir da problematização do trabalho, com base na integração teoria-prática, considerando as condições para o desempenho.