Avaliação funcional do assoalho pélvico em primíparas após parto vaginal com e sem episiotomia

Abstract

Introdução: mesmo com a recomendação de várias diretrizes, incluindo a Organização Mundial de Saúde (OMS), contra o uso rotineiro da episiotomia, esse procedimento ainda persiste como um dos procedimentos mais realizados na prática obstétrica em todo o mundo. A maioria dos estudos sobre assoalho pélvico no pós-parto não diferencia as mulheres que foram submetidas ou não à episiotomia e são escassos os estudos que avaliaram o comportamento eletrofisiológico dos músculos do assoalho pélvico (MAP) em mulheres pós-parto. Objetivo: avaliar a funcionalidade dos músculos do assoalho pélvico em primíparas após parto vaginal com e sem episiotomia. Métodos: realizou-se um estudo de corte transversal, aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do IMIP (CAAE 48639015.9.0000.5201), no Instituto Paraibano de Pesquisa Prof. Joaquim Amorim Neto (IPESQ), incluindo 62 mulheres, sendo primíparas pós- parto vaginal com episiotomia (n=20), sem episiotomia (n=19) e nuligestas (n=23). Foram verificadas características biológicas, sociodemográficas, obstétricas, neonatais e características funcionais do assoalho pélvico. As primíparas foram avaliadas de três a seis meses após o parto.Foi realizada uma avaliação funcional do assoalho pélvico através da eletromiografia de superfície e da palpação digital com Escala de Avaliação Funcional do Assoalho Pélvico (EAFAP), proposta para este estudo, abordando parâmetros como reflexo, resposta, tônus, dor, mecanismo, intensidade, simetria, relaxamento, coordenação. A atividade eletromiográfica foi registrada através de uma sonda vaginal (MAPINT) e de um eletrodo de superfície alocadoexternamente nos músculos superficiais do períneo (MAPEXT). Antes do registro da atividade elétrica, foi realizado um treinamento com biofeedback eletromiográfico, para ensinar a participante acontrairosMAPdeformaisolada.Emseguida,foramsolicitadastrêscontrações máximas, voluntárias e sucessivas dos MAP, com duração de cinco segundos e dez segundos de repouso entre elas. Os dados foram analisados através do pacote de software estatístico SPSS versão 20.0, sendo utilizado o teste de Shapiro-Wilk para verificar a distribuição de normalidade dos dados. Para verificar a diferença entre os grupos foram utilizados o teste de Levene, teste de Análise de Variância (ANOVA one- way) e teste DHS de Tukey, como post hoc. Para comparar os dados não-paramétricos intergrupos, foramutilizados o teste H de Kruskal-Wallis e o teste de Dunn, como teste post hoc. Foi considerado um nível de significância de 5%.Resultados: a média de atividade eletromiográfica dos MAPINT no grupo de mulheres com episiotomia foi de 6,63 ± 2,52 μV, nas primíparas sem episiotomia foi de 15,59 ± 3,61 μV e nas nuligestas foi 27,45 ± 4,5μV, uma diferença que foi estaticamente significante entre os grupos (p<0,001). A Escala de Avaliação Funcional do Assoalho Pélvico apresentou validade interna (alfa de Cronbach igual a 0,786). Os resultados da EAFAP registraram mediana de 10 pontos (IIQ=9–12) para as nuligestas, seis pontos (IIQ=2–8) para as primíparas sem episiotomia e cincos pontos (IIQ=2–9) para as primíparas com episiotomia, diferença que também foi estatisticamente significante entre os grupos (p<0,001). Conclusão: os MAP das mulheres nuligestas têm melhor função muscular do que os MAP das primíparas após o parto normal. As primíparas sem episiotomia têm MAP com melhor função muscular do que as primíparas comepisiotomia.