Disfunção sexual no ciclo gravídico puerperal

Abstract

INTRODUÇÃO: durante o período gravídico-puerperal, as mulheres podem relatar problemas relacionados à função sexual. Dados de prevalência da disfunção sexual nesse período são escassos. Avaliar a saúde e disfunção sexuais pode ser difícil para o profissional de saúde, especialmente devido à falta de ferramentas adequadas. Para avaliação das disfunções sexuais na população brasileira no período gestacional um novo questionário foi desenvolvido, porém não foram identificados questionários validados para a população no pós-parto. ESTUDO 1- OBJETIVOS: analisar as propriedades de medida (consistência interna, confiabilidade teste-reteste e validade de critério) do questionário Female Sexual Function Index 6-item version (FSFI-6) para a população brasileira no pós-parto. MÉTODOS: estudo de propriedade de medida, realizado por meio da aplicação de questionários para 100 mulheres sexualmente ativas no pós-parto. O coeficiente Alfa de Cronbach foi utilizado para avaliar a consistência interna. A confiabilidade teste-reteste foi analisada pelo Kappa para cada item do questionário e pelo teste paramétrico de Wilcoxon, comparando-se os escores totais de cada avaliação. Para avaliar a validade de critério, o Female Sexual Function Index (FSFI) foi utilizado como padrão-ouro e a curva ROC foi construída. As análises estatísticas foram realizadas utilizando-se o software SPSS, versão 21.0. RESULTADOS: a consistência interna do FSFI-6 foi consideravelmente alta (0,839). Os resultados da confiabilidade teste-reteste foram satisfatórios. O FSFI-6 apresentou uma excelente validade discriminante (AUC= 0,926). Considera-se presente a disfunção sexual se o escore geral do FSFI-6 for < 21, com sensibilidade de 85,5%, especificidade de 82,2%, razão de verossimilhança positiva de 4,81 e razão de verossimilhança negativa de 0,18. CONCLUSÃO: a versão em português do Brasil do FSFI-6 se mostrou válida para uso em mulheres no pós-parto. ESTUDO 2- OBJETIVOS: determinar a prevalência de disfunção sexual na gestação e verificar a associação da disfunção com as variáveis idade, idade gestacional, estado civil, escolaridade, religião, ocupação, número de filhos, tabagismo, etilismo, uso de drogas e planejamento da gravidez. MÉTODOS: estudo descritivo, transversal, incluindo 262 gestantes, com 18 anos ou mais, com idade gestacional entre 10 e 35 semanas, excluindose mulheres com infecções do trato urinário e condições de risco gestacional. Foi utilizado o questionário The Pregnancy Sexual Response Inventory (PSRI) e o Stata 12.1 para as análises estatísticas. As comparações entre as médias dos valores dos domínios da função sexual foram avaliadas pelo teste t-Student. A associação do qui-quadrado foi utilizada para determinar a associação entre as variáveis independentes e a satisfação sexual. As razões de prevalência, com seus respectivos IC 95%, também foram estimadas e a análise multivariada foi realizada. Foi utilizado um nível de significância de 0,05. RESULTADOS: diminuição na frequência de atividade sexual durante a gestação foi observada em cerca de 64,9% das mulheres. Pouco mais da metade das mulheres (50,8%) estavam satisfeitas durante a gestação. A excitação foi relatada como excelente/boa em 30,5% durante a gravidez. A frequência de dificuldades/disfunções sexuais aumentou com a gravidez (5,7 para 58,8%). Dispareunia foi relatada por 45,8% das mulheres durante a gestação. Ter ensino superior diminuiu em 50% a chance de ser sexualmente insatisfeita. O escore total do PSRI mostrou uma diminuição significativa do período pré-gestacional (escore médio = 89,8 "excelente") para a gestação (escore médio= 59,2 "bom"). CONCLUSÃO: o escore médio da função sexual durante a gestação foi classificado como bom, embora a maioria das gestantes tenha relatado pelo menos um tipo de alteração nos domínios da função sexual e a insatisfação sexual tenha sido mais frequente nas mulheres com menor escolaridade.