Fatores associados à adiposidade fetal e neonatal: estudo de coorte

Abstract

Introdução: dentre os fatores relacionados às alterações metabólicas e à adiposidade fetal e ao nascer, destacam-se o estado nutricional materno, o perfil metabólico e o ganho ponderal gestacional. A avaliação da adiposidade fetal e neonatal por ultrassonografia pode se tornar um método promissor para auxiliar a traçar um perfil metabólico de risco, além de iniciar a prevenção de doenças crônicas no período intrauterino. Objetivo: determinar os fatores associados à adiposidade fetal e neonatal. Método: foi realizada análise secundária de dados de uma coorte com 187 pares de gestantes e fetos avaliados na 16ª, 28ª, 36ª semanas de idade gestacional e neonatos avaliados nos primeiros dez dias após o nascimento, no Institutode Pesquisa Professor Joaquim Amorim Neto (IPESq). As gestantes foram captadas nas unidades de saúde do município de Campina Grande/PB, com idade gestacional menor ou igual a 16 semanas, sendo avaliadas através da ultrassonografia a biometria fetal, a adiposidade visceral e subcutânea da mãe, do feto e do neonato. Foram avaliadas no binômio (gestante e neonato) medidas antropométricas e metabólicas: glicose, insulina, hemoglobina glicada, resistência insulínica (RI), triglicerídeos,colesterol total e frações.A análise estatística foi realizada nos programas Epi-Info v. 7.2.2.6 e Medcalc v. 18.6. Foi utilizado o coeficiente de correlação de Pearson para determinar a associação das variáveis independentes com as variáveis dependentes (adiposidade fetal na 28ª e 36ª semanas e neonatal), considerando-se o nível de significância de 5%. Foi realizada análise de regressão linear múltipla stepwise, incluindo inicialmente as variáveis associadas ao desfecho ao nível de significância de 20% na análise bivariada e permanecendo no modelo final aquelas que persistiram associadas ao desfecho ao nível de significância de 5%. O estudo está em conformidade com a Resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde e foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Universitário da Universidade Federal de Campina Grande/PB (CAAE: 7055.9817.2.0000.5182). Resultados: as médias de adiposidade visceral fetal apresentadas na 28ªfoi 4,4±0,5milímetros (mm) e na 36ª semana6,1±0,6mm. Houve elevada frequência de gestantes com sobrepeso/obesidade (38,1%). Após a análise de regressão linear múltipla permaneceram associadas à adiposidade visceral fetal na 28ª semana a área da coxa (p<0,0001), a circunferência abdominal fetal (p<0,0001), a circunferência da coxa (p<0,0001) e a circunferência cefálica na 36ª semana (p=0,01).Na 36ª semana permaneceram associadas à adiposidade visceral fetala circunferência abdominal fetal na 28ª semana (p=0,02) e na 36ª semana (p<0,0001). No neonato, a adiposidade subcutânea se manteve associada, após análise multivariada com a adiposidade visceral (p=0,00) e o peso da gestante (p=0,00) na 16ª semana,bem como com as variáveis fetais: circunferência da coxa fetal (28ª semana) (p=0,03),comprimento do fêmur (36ª semana) (p=0,02) e adiposidade visceral no neonato (p<0,0001). A adiposidade visceral no neonato permaneceu associada coma adiposidade subcutânea da gestante na 16ª semana (p=0,00) e com variáveis neonatais: circunferência abdominal (p=0,04), adiposidade subcutânea (p<0,0001) e RI (p=0,03). Conclusão: encontrou-se associação significativa da adiposidade visceral fetal com a circunferência abdominal, medida de adiposidade de distribuição central. A adiposidade visceral no neonato permaneceu associada com a circunferência abdominal, a adiposidade subcutânea e a resistência à insulina ao nascer, fatores relacionados à saúde metabólica.O real papel dos fatores maternos, como estado nutricional e ganho de peso gestacional, fatores de risco modificáveis e potencialmente preveníveis, persiste por ser elucidado em estudos futuros.