Fatores associados ao desfecho adverso materno e perinatal em uma maternidade escola de alto risco no nordeste do Brasil

Abstract

Cenário: a mortalidade materna, o near miss materno, o óbito fetal, a mortalidade neonatal precoce e tardia e o near miss neonatal, constituem por suas consequências graves, sérios problemas de saúde pública e deve ser pauta permanente de políticas governamentais voltadas para melhorar a assistência materno e infantil. Objetivo: identificar os fatores associados ao desfecho adverso materno (near miss materno) e perinatal (near miss neonatal) e seus indicadores de saúde, em uma população de gestantes, puérperas e neonatos admitidos em uma maternidade escola, de alto risco no nordeste do Brasil, entre junho de 2015 a maio de 2016. Métodos: realizou-se um estudo analítico do tipo coorte prospectivo. Foram incluídas todas as gestantes admitidas na Maternidade Escola Santa Mônica, localizada no município de Maceió, estado de Alagoas (Brasil), entre junho de 2015 e maio de 2016. Analisando-se suas características sociodemográficas, obstétricas, atrasos assistenciais, near miss materno e near miss neonatal, através de entrevistas e prontuários. Foram excluídas da coleta aquelas que ainda não haviam recebido alta no período do estudo ou não conseguimos contato, após o 42º dia do pós-parto, para o controle do near miss materno e neonatal. A análise estatística foi realizada com o programa Epi-Info 7, usando os testes Qui-quadrado de associação e exato de Fisher quando oportuno, considerando-se o nível de significância de 5%. Realizou-se uma análise bivariada para verificar a existência de diferenças entre os grupos e todas as variáveis avaliadas na análise bivariada foram posteriormente incluídas na análise multivariada, através de regressão logística múltipla stepwise, a partir de um modelo teórico hierarquizado tendo como variável resposta os desfechos adversos near miss materno e neonatal. Aspectos éticos: a pesquisa atendeu às resoluções da Declaração de Helsinque e da resolução 466/2012 do Conselho Nacional da Saúde. Não existiu conflito ético na realização do trabalho. O trabalho foi realizado após aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa envolvendo seres humanos da UNCISAL com o número CAAE 37977014.0.0000.5011. Todas as puérperas incluídas concordaram voluntariamente em participar e assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Resultados: foram estudadas 1.094 gestantes e destas verificou-se 682 (62,4%) sem desfechos adversos materno (SDAM) e 412 (37,6%) com desfechos adversos materno (CDAM), dos quais 352(85,4%) apresentando condições potencialmente ameaçadoras a vida (CPAV), 55 (13,4%) casos de near miss materno e cinco (1,2%) óbitos maternos. No período, houve 1.002 nascidos-vivos na maternidade, atingindo-se uma razão de near miss materno de 54,8/1000 NV. Ocorreu 1.051 nascimentos na maternidade, identificamos 723 (68,8%) sem desfechos adversos perinatais (SDAP) e 328 (31,2%) com desfechos adversos perinatais (CDAP), dos quais 221(67,4%) casos de near miss neonatal (NMN), 49 (14,9) óbitos fetais, 44 (13,4%) óbitos neonatais precoces e 14 (4,3%) óbitos neonatais tardios. Atingindo-se uma taxa de near miss neonatal de 220/1.000 NV. Após análise multivariada, os fatores que permaneceram significativamente associados a um aumento no risco para near miss neonatal foram número de consultas no pré-natal menor que seis consultas (OR: 3,57; IC95%: 2,57- 4,94) e malformação (OR: 8,74; IC95%: 3,69-20,90), enquanto idade materna maior que 35 anos (OR: 0,43; IC95%: 0,23-0,83) e cesárea anterior (OR: 0,45; IC95%: 0,29-0,68) apareceu como fator protetor para near miss neonatal. Os fatores que permaneceram associados à ocorrência de NMM foram o número de consultas pré-natais inferior a seis (OR: 3,13; IC95%: 1,73-5,64) e a cesárea na presente gestação (OR: 2,91; IC95%: 1,45-5,82) Conclusões: NMM e NMN parecem ser precursores preveníveis da mortalidade materna e neonatal, sugerimos que auditorias deveriam ser realizada em todos os casos de near miss. Pré-natal inadequado e presença de malformações aumentaram o risco de NMN, enquanto o fato de a mulher ter mais idade e cesárea anterior foram fatores protetores. Os fatores que permaneceram associados à 7 ocorrência de NMM foram o número de consultas pré-natais inferior a seis e a cesárea na presente gestação. Evidenciou-se, necessidade de melhoria na qualidade e quantidade do número de consultas pré-natal e identificação de modelos inovadores e viáveis de atenção ao parto e nascimento que valorizem o parto normal e reduzam o percentual de cesarianas desnecessárias.