Prevalência e fatores associados à violência intrafamiliar contra crianças e adolescentes com distúrbio da comunicação, assistidos em serviços de fonoaudiologia em Maceió/Alagoas: estudo tipo corte transversal

Abstract

CENÁRIO: os distúrbios da comunicação são frequentes na infância, podendo comprometer o desenvolvimento cognitivo e socioemocional de crianças e adolescentes. Envolvem componentes funcionais da audição, fala e/ou linguagem e associam-se com alterações do comportamento, como ansiedade e depressão, dificultando o relacionamento interpessoal, tornando-as mais vulneráveis à violência intrafamiliar. Embora seja um problema de saúde pública, esta violência ainda é pouco estudada nesta população. OBJETIVO: estimar a prevalência e os fatores associados à violência intrafamiliar em crianças e adolescentes com distúrbio da comunicação. MÉTODOS: realizou-se um estudo descritivo, observacional do tipo estudo transversal, estruturado a partir de uma amostra não probabilística incluindo 265 crianças e adolescentes, na faixa etária de cinco a 19 anos, diagnosticadas com distúrbio da comunicação, assistidas em serviços públicos de referência em Fonoaudiologia na cidade de Maceió/Alagoas. Utilizou-se como instrumento um questionário com perguntas fechadas, incluindo variáveis de interesse do estudo, e as escalas Parent-child conflict tactics scale e Hospital Anxiety and Depression Scale. Os dados foram digitados em banco com dupla entrada, utilizando-se o programa de domínio público EXCEL e o programa STATA 12.0. Para verificar associação entre variáveis de exposição e desfecho utilizaram-se os Testes Qui-quadrado e Exato de Fischer para análise bivariada. O modelo multivariado de Regressão Logística BACKWARD LR foi utilizado considerando-se os valores de p< 0,20 para entrada das variáveis no modelo final e Intervalo de Confiança de 95% (IC=95%). O projeto de pesquisa foi aprovado pelo CEP/IMIP-UNICISAL, sob o número CAAE nº 46343115.6.0000.5011. RESULTADOS: o estudo encontrou 94% deprevalência de violência intrafamiliar. Os resultados das análises multivariadas de Regressão Logística identificaram crianças e adolescentes do sexo masculino como fator associado à violência intrafamiliar (OR: 4,65; IC=95%: 1,44 – 14,98). O Modelo ajustado para Sintomas de Ansiedade evidenciou que a ausência de condições sanitárias de água e esgoto (ORª = 2,17; IC=95%: 1,20-3,91), morar em bairro violento (ORª = 1,80; IC=1,00-3,23), responsáveis com história de violência (ORª = 1,81; IC= 1,02-3,22) e o comportamento intolerante dos responsáveis (ORª = = 3,02; IC= 1,68-5,42) são fatores associados aos sintomas de Ansiedade. O Modelo de Regressão logística para Sintomas de Depressão evidenciou as variáveis: idade entre cinco e nove anos (ORª= 0,47; IC= 0,24-0,93) e isolamento social (ORª=2,73; IC= 1,22-6,10) mantiveram-se como fatores associados. CONCLUSÃO: O estudo evidenciou uma elevada prevalência de violência intrafamiliar, indicando que crianças e adolescentes com distúrbio de comunicação são quase sempre vítimas dessa violência, sendo mais elevada no sexo masculino. As condições de moradia precária, residir em bairro violento, responsáveis intolerantes, ser adolescente e família que vive isolada da comunidade são fatores que se associam a sintomas de ansiedade e depressão em crianças e adolescentes com distúrbios da comunicação.