Citocinas e quimiocinas em crianças e adolescentes com infecções bacterianas agudas

Abstract

Introdução: as doenças infecciosas foram responsáveis por cerca de 3,2 milhões de mortes em crianças menores de cinco anos no mundo em 2013, correspondendo a 52% das causas de óbito nesse grupo etário. A diversidade de síndromes clínicas pode ser decorrente da complexa resposta imune de cada hospedeiro frente aos diferentes patógenos. Citocinas e quimiocinas são proteínas solúveis que atuam em várias etapas da resposta imune. Estudos têm investigado as concentrações de citocinas e quimiocinas em diversas situações clínicas. Entretanto, há poucos artigos na literatura sobre o papel de determinadas citocinas como a IL-17, em especial IL-17F e das quimiocinas MCP-1, RANTES, MIG e IP-10 em crianças com infecções bacterianas agudas. O objetivo desta tese foi avaliar as concentrações séricas de citocinas e quimiocinas em crianças e adolescentes com sepse, pneumonia e abscesso cutâneo. Métodos: estudo translacional, de corte transversal, com componente longitudinal e grupo de comparação interno, no período de março de 2011 a março de 2016. Foram incluídas um total de 109 crianças, sendo 37 internadas com sepse, 27 internadas com pneumonia e 25 internadas com abscesso cutâneo, além de 20 controles submetidos a cirurgias eletivas. As concentrações séricas das citocinas e quimiocinas foram determinadas através da citometria de fluxo, utilizando os kits BDTM CBA – Human Inflamatory Cytokines Kit, BDTM CBA – Human TH1/TH2/TH17 Cytokines Kit e BDTM CBA – Human Chemokines Kit (BD BIOSCIENCES, CA), seguindo instruções do fabricante. A dosagem de IL-17F foi realizada pela técnica de ELISA utilizando Human IL-17F Platinum ELISA Kit (eBioscience, CA). Resultados: na análise de citocinas, foi observado que os níveis séricos medianos de IL-17F foram 10 vezes mais elevados do que os níveis de IL-17A (204,9 pg/mL e 17,5 pg/mL, respectivamente, p< 0,0001). Crianças com sepse e pneumonia apresentaram níveis de IL-17F, IL-17A, IL-6 e IL-10 significativamente mais elevados do que os controles. Não houve diferença significativa nas concentrações destas citocinas entre os dois grupos de pacientes com sepse e pneumonia. Na análise de quimiocinas, os níveis de RANTES foram mais elevados em crianças com sepse, pneumonia e abscesso cutâneo comparados aos controles (p = 0,0057, p = 0,0004 e p = 0,0108, respectivamente). As concentrações de IP-10 foram mais elevadas em crianças com sepse, quando comparadas às crianças com abscesso cutâneo (p = 0,0075). Os níveis de MCP-1 foram diminuídos em crianças com sepse comparadas aos controles (p = 0,0136). As concentrações de MIG não apresentaram diferença entre os grupos. Conclusão: nossos resultados originais sugerem que a citocina IL-17F e a quimiocina RANTES podem ter papel importante na patogênese da infecção bacteriana. Pacientes com sepse apresentaram um perfil específico de resposta com níveis elevados de IP-10 e reduzidos de MCP-1, as quais devem ser mais amplamente investigadas como preditoras de gravidade.