Efeitos da tensão mecânica da bandagem elástica compressiva sobre a vascularização, flexibilidade e altura da cicatriz hipertrófica em pacientes com queimaduras profundas – ensaio piloto randomizado

Abstract

Introdução: queimaduras de espessura parcial profunda se estendem à camada reticular da derme, podendo ocasionar um processo de cicatrização tecidual hipertrófico com consequentes limitações funcionais e estéticas, que, por sua vez, direciona o paciente a um estado de baixa autoestima e isolamento social. As malhas compressivas, as placas de silicone, o gel de silicone e a bandagem elástica são recursos terapêuticos utilizados para o tratamento conservador dessas cicatrizes. O efeito do tratamento compressivo no tecido cicatricial hipertrófico promove a redução da vascularidade local e o realinhamento das fibras colágenas, resultando na reparação da mobilidade multidirecional do tecido. Objetivo: determinar o efeito que a tensão mecânica da bandagem elástica (Kinesio tape) exerce sobre a vascularização, flexibilidade e altura de cicatrizes hipertróficas em pacientes com queimaduras de espessura parcial profunda. Métodos: trata-se de um ensaio piloto randomizado duplo-cego, realizado no Centro de Reabilitação do Hospital da Restauração Governador Paulo Guerra, no período de junho de 2019 a março de 2020. Foram incluídos pacientes com idade entre 20 e 70 anos, com cicatrizes hipertróficas. Excluídos os que apresentavam descamação e feridas abertas no tecido cicatricial; as gestantes; os pacientes que haviam realizado previamente qualquer recurso terapêutico que possa ter alterado o processo de remodelação do tecido hipertrófico e os pacientes com distúrbios psiquiátricos. Foram randomizadas 22 pacientes, para o grupo intervenção (GI) que recebeu a bandagem com uma tensão máxima (n=11) e o grupo controle (GC) sem tensão adicional (n=11). A bandagem elástica foi utilizada por um período de 90 dias, sendo seis dias de uso contínuo e um dia de descanso. Foi realizada uma avaliação inicial, antes do uso da primeira bandagem e avaliações subsequentes após 45 e 90 dias. Os desfechos primários foram: vascularização, flexibilidade e altura das cicatrizes, tendo como instrumento de avaliação nos tempos citados a escala de cicatrização de Vancouver. Para análise estatística, a relação entre cada variável resposta de interesse nesse estudo e as variáveis tipo de intervenção e tempo de avaliação foram analisadas utilizando-se modelos de regressão lineares mistos. Enquanto as comparações de médias (estimadas pelos modelos ajustados) entre as intervenções e entre os instantes de avaliação foram realizadas com o teste de Wald. Em todos os testes foi adotado o nível de significância de 5%. Resultados: participaram do estudo 22 voluntários portadores de cicatrizes hipertróficas, houve uma prevalência do sexo feminino, as lesões em sua maioria foram resultantes de agentes térmicos (n= 20; 98,9%), com predominância de lesões de 2o grau profundo (n=19; 97,9%). No GI houve uma maior frequência de queimaduras em tronco (n=7; 63,6%), enquanto no GC houve predomínio de queimaduras em membros inferiores (n=8; 72,7%). Ressalta-se que não foi possível observar uma diferença estatística significativa entre os dois grupos, quando se comparou as médias dos escores da escala de Vancouver quanto a vascularização, flexibilidade e altura nas cicatrizes hipertróficas. Porém, houve uma melhora significativa quando se comparou o antes com o depois em ambos os grupos. Conclusão: foi observado que a tensão mecânica máxima não foi efetiva na melhora da vascularização, na reparação da maleabilidade e na redução da altura das cicatrizes hipertróficas resultantes de queimaduras profundas no tempo estudado.