Pressão positiva contínua nas vias aéreas durante a indução de anestesia para cirurgia pediátrica: ensaio clínico randomizado

Abstract

INTRODUÇÃO: pacientes pediátricos apresentam com mais frequência episódios de dessaturação durante a indução de anestesia geral (4-10%). Pressão Positiva Contínua na Via Aérea (CPAP) é um modo ventilatório que pode melhorar a troca gasosa alveolar nesse período, minimizando a formação de atelectasia e aumentando a capacidade residual funcional. OBJETIVOS: determinar a efetividade do CPAP durante a indução anestésica em prolongar o tempo de apneia seguro (tempo em apneia até que a saturação da hemoglobina caia a 95%). MÉTODOS: ensaio clínico, fase III, paralelo, randomizado desenvolvido no Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco com crianças divididas em grupos CPAP e Controle (34 em cada). Foram incluídas crianças em idade pré-escolar, estado físico I ou II, segundo a sociedade americana de anestesiologistas, submetidas a cirurgia eletiva sob anestesia geral. As variáveis estudadas: tempo entre o início da apneia e a queda da saturação periférica da oxihemoglobina (SpO2) a 95% (T1), tempo para recuperação da SpO2 a níveis pré-apneia (T2), tempo entre o início da apneia e a queda da SpO2 a 95% apenas entre os pacientes em que houve queda da SpO2 a 95% (T3), frequência de queda da SpO2 a 95% e análise de sobrevida, levando em consideração o tempo até a queda da SpO2 a 95%. Na análise estatística, foram utilizados para as variáveis categóricas os testes qui-quadrado de associação com correção de Yates e o teste exato de Fisher quando indicado. Também foi calculada a razão de risco (RR) como medida do risco relativo e o seu intervalo de confiança a 95%. Em relação às variáveis numéricas, foram utilizadas média e desvio-padrão, além do teste t de Student. Para testar a normalidade da amostra, foi aplicado o teste de Shapiro-Wilk. Na análise de sobrevida, foi calculada a probabilidade acumulada para avaliar as chances que cada individuo do estudo tinha de atingir uma SpO2 de 95% entre o início do estudo até um tempo máximo de cinco minutos, utilizando o método de Kaplan-Meier. As curvas de sobrevivência foram comparadas usando o teste de log-rank (Mantel-Cox). Foram construídas também curvas para cada grupo com as médias das SpO2 medidas a intervalos regulares mediante o ajuste por um modelo de regressão para dados correlacionados que também avaliou a significância do tempo, grupo e a interação entre eles. As comparações de médias entre os dois grupos, em um dado tempo, foram realizadas com o teste de Wald. Foi considerado significante um p<0,05 RESULTADOS: T1 foi superior no grupo CPAP em comparação com o grupo Controle [227,65+84,74 segundos vs. 133,68+70,39 segundos, p<0,0001]. Não houve diferença entre os grupos quanto ao T2 [38,65+49,07 segundos vs. 43,12+60,64 segundos, p=0,79], enquanto o T3 foi estatisticamente significativo (161,17+61,91 segundos vs. 123,28+58,12 segundos, p=0,038). A análise de sobrevida mostrou que a sobrevivência foi superior no grupo CPAP em comparação com o grupo controle (teste Log Rank, p = 0,0001). Uma frequência maior de pacientes no grupo CPAP manteve saturação superior a 95% [17/34 (50%) vs. 2/34 (5,9%), RR 0,5313, IC95% 0,37-0,75, p<0,0001]. Os valores de saturação em medidas repetidas foram superiores no grupo CPAP. CONCLUSÕES: CPAP durante a indução anestésica foi efetiva em prolongar o tempo de apneia seguro em crianças submetidas a anestesia geral para cirurgia eletiva.