A vivência da sexualidade em idosos portadores de transtornos mentais: um estudo qualitativo

Abstract

Introdução: Estudos sobre sexualidade em idosos e em pessoas com transtornos mentais tem priorizado aspectos biológicos em detrimento dos aspectos subjetivos. Entender como esses indivíduos percebem a sua sexualidade e como essa percepção influencia na sua satisfação sexual pode contribuir para a melhora da qualidade de vida nessa população. Objetivo: Compreender a vivência da sexualidade em idosos com transtornos mentais. Métodos: O estudo foi realizado com idosos acima de 60 anos, acompanhados no ambulatório de psiquiatria de um hospital quaternário que atende exclusivamente pacientes do Sistema Único de Saúde em Pernambuco, Brasil, no período de julho de 2019 a junho de 2020. A abordagem metodológica foi qualitativa com amostragem por conveniência fechada por saturação, e foi utilizada uma entrevista semiestruturada contendo informações sobre dados sociodemográficos e iniciada com uma pergunta disparadora “Como o(a) senhor(a) vivencia a sua sexualidade?”, e outras questões norteadoras referentes a compreensão da sexualidade, lugar do sexo na vida deles, satisfação sexual, fatores que influenciam na satisfação sexual e abordagem da sexualidade em consultas médicas. A análise foi realizada através da técnica de análise de conteúdo, constituindo-se como etapas a pré-análise, exploração do material e interpretação dos resultados obtidos. A pesquisa foi aprovada pelo comitê de ética em pesquisas com seres humanos do IMIP vide CAAE 07936018.4.0000.5201. Resultados: Foram entrevistados onze idosos entre 63 e 81 anos, a maioria do sexo feminino. As doenças psiquiátricas mais comumente relatadas foram depressão e ansiedade, seguidas por dependência química, transtorno bipolar e transtorno alimentar (compulsão alimentar). Após a leitura em profundidade das entrevistas dos idosos, emergiram quatro categorias temáticas que evidenciaram: 1) as dificuldades de compreensão do conceito de sexualidade; 2) as vivências da sexualidade dos idosos com transtornos mentais, onde a maioria dos entrevistados considerou que a importância da sexualidade foi diminuindo ao longo da vida, e um reforçou a piora das vivências sexuais no período do adoecimento mental; 3) a influência de fatores morais, emocionais e relacionais na percepção da satisfação sexual, demonstrando que a satisfação é associada a aspectos inerentes à sexualidade e não apenas ao sexo; e 4) a pouca abordagem da sexualidade em consultas médicas pelos profissionais de saúde. Conclusões: A vivência da sexualidade em idosos é atravessada por aspectos culturais e sociais importantes e a adição de algum transtorno mental parece impactar de modo negativo a expressão da sexualidade por esta população. Entender as vivências da sexualidade nos idosos com adoecimento mental é primordial para promover bem-estar e para contribuir no processo de reintegração psicossocial desses indivíduos. Para isso, a atuação dos profissionais de saúde é fundamental, sendo recomendado que eles perguntem ativamente sobre a saúde sexual e o funcionamento sexual dos idosos, reflitam sobre estratégias de cuidado e favoreçam ações voltadas para minimizar o forte silenciamento das questões da sexualidade no contexto da saúde mental, proporcionando um cuidado integral voltado para a melhora da qualidade de vida dessa população.