Adesão aos métodos contraceptivos entre mulheres com doença falciforme: um estudo de coorte

Abstract

Introdução: a Doença Falciforme representa um importante problema de saúde no mundo, e Pernambuco está entre os estados com maior prevalência da doença no Brasil. Durante a gestação, há um aumento significativo na morbimortalidade o que reforça a necessidade do aconselhamento contraceptivo como estratégia para minimizar o problema. Este aconselhamento deve ser individualizado, permitindo autonomia de escolha e deste modo favorecer sua adesão. Objetivo: analisar a escolha e adesão aos métodos contraceptivos entre mulheres com doença falciforme atendidas em serviço de saúde terciário. Método: foi realizado um estudo de coorte, de caráter exploratório, em mulheres em idade fértil com doença falciforme que foram acompanhadas no ambulatório para mulheres com doença falciforme no Centro de Atenção à Mulher do Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira no período de janeiro de 2018 a agosto de 2020. Foram excluídas aquelas que não conseguiram compreender as questões contempladas no questionário, que não desejavam contracepção, com complicações clínicas que inviabilizavam a escolha dos métodos e as que não preencheram os critérios de elegibilidade da Organização Mundial de Saúde para essa prática. No momento inicial da pesquisa foram coletados dados sociodemográficos, clínicos e reprodutivos de 54 mulheres com doença falciforme encaminhadas e atendidas no ambulatório. A orientação contraceptiva ocorreu na primeira consulta após o qual as mulheres escolheram e receberam o método progesterona isolada ou outros métodos contraceptivos. Em seguida, foram orientadas a retornar para avaliação após 1, 3, 6 e 12 meses. As que não retornaram nas datas agendadas, foram contactadas por telefone. Os dados foram digitados no programa Excel e as análises realizadas com o programa STATA 12.1. As variáveis relacionadas as características sociodemográficas e clínicas foram descritas em tabelas de distribuição de frequência absolutas e relativas. A adesão foi avaliada pela análise de sobrevida de Kaplan-Meier, considerando os grupos com progesterona isolada e o grupo com outros métodos contraceptivos O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa Envolvendo Seres Humanos do IMIP (CAE: 70666317.8.00005201). Resultados: 10 mulheres não retornaram para as consultas de seguimento, resultando em 44 mulheres para acompanhamento no primeiro ano. Entre os genótipos da doença, predominou o HbSS (79,5%) e a raça mais autorreferida foi a parda/negra (75,0%). Todas as mulheres tinham história de crise vasooclusiva (1 a 2 crises por ano) e 38 delas (86,4%) referiram necessidade de hemotransfusão. A progesterona isolada por diferentes vias de administração (oral, injetável e sistema de liberação intrauterina) foi escolhida por 28 (63,6%) mulheres após orientação. Ao final de doze meses de acompanhamento a adesão aos métodos com progesterona isolada por qualquer via foi de 60,7 % (IC95%: 40,4 – 76,0) enquanto a adesão aos outros métodos- hormonal combinado e não hormonal foi de 68,7% (IC95%: 40,5 – 85,6). A taxa total de adesão aos métodos foi de 68,2%. (IC95%: 53,4 – 80,0) e não houve diferença estatisticamente significante entre os grupos (log-rank test: p=0,641). Cinco mulheres interromperam o uso do método com a intenção de engravidar e destas, duas engravidaram, sendo a taxa de gravidez 4,5% (IC95%: 0,6–15,5). Conclusão: O uso de métodos contraceptivos contendo progesterona isolada foi o que predominou entre as escolhas das mulheres com doença falciforme. Por outro lado, a adesão ao método contraceptivo não teve associação com o grupo de método utilizado.