Perfil clínico, manejo, resultados maternos e fatores associados ao desfecho materno adverso em pacientes internadas por eclâmpsia em uma uti obstétrica no recife: um estudo de coorte

Abstract

Introdução: a eclâmpsia é causa significativa de morbidade e mortalidade, visto que as convulsões levam a hipóxia materna grave. A hipertensão é a primeira causa de morte materna no Brasil e a segunda no mundo, sendo responsável por cerca de 35% dos óbitos. Objetivo: descrever o perfil clínico, o manejo, os resultados maternos e os fatores associados ao desfecho materno adverso em pacientes internadas por eclâmpsia em UTI obstétrica do IMIP. Métodos: foi realizado um estudo de coorte retrospectivo na UTI obstétrica do IMIP. Foram consideradas para inclusão na pesquisa todas as mulheres internadas na UTI obstétrica com diagnóstico de eclâmpsia, no período de abril de 2012 a dezembro de 2019. Desfecho materno adverso (DMA) foi definido como todos os caos de near miss materno (NMM) somados aos óbitos maternos. Foi realizada a busca de todos os prontuários permitindo a identificação exata dos casos. Pacientes em que após revisão do prontuário, não se confirmou o diagnóstico de eclâmpsia foram excluídas do estudo. Todas as informações foram registradas em um formulário próprio construído especialmente para esse fim. A análise estatística foi realizada no programa estatístico EpiInfo versão 3.5.4 e no Medcalc 19.8. Utilizaram-se medidas de tendência central e de dispersão e distribuição de frequência, além dos testes qui-quadrado de associação e o teste exato de Fisher, quando necessário, para as variáveis categóricas. A seguir, foram preparadas tabelas de contingência para determinação da associação entre variáveis independentes (fatores preditivos) e o DMA, calculando-se a Razão de Risco (RR) e seu Intervalo de Confiança a 95% (IC 95%) como medida do risco relativo. Adotou-se o nível de significância de 5%. À categoria de referência atribuiu-se o risco padrão de 1,0. Este projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) do IMIP, obtendo-se dispensa do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Realizou-se análise de regressão logística múltipla para determinação dos fatores mais fortemente associados ao óbito, depois de controladas as variáveis potencialmente confundidoras, calculando-se Odds Ratio ajustada (ORa). Resultados: entre 284 pacientes, 67 evoluíram com DMA (23,6%), sendo que 63 apresentaram NMM (22,2%) e cinco foram a óbito (1,8%). Na análise bivariada observou- se que as mulheres com idade menor ou igual a 19 anos (p=0,012), aquelas com idade maior ou igual a 35 anos (p=0,019), o fato de a mulher apresentar as seguintes complicações associadas: lesão renal aguda (p<0,001), síndrome HELLP (p=0,005), hemorragia puerperal (HPP) (p=0,003) e edema agudo de pulmão (p=0,008) estiveram associados ao risco de a paciente evoluir com DMA. Após análise de regressão logística múltipla hierarquizada os fatores que persistiram associados ao DMA foram idade menor que 19 anos (ORa:0,46) e ter apresentado HPP (ORa: 3,33). Conclusão: a taxa de óbito em pacientes com eclâmpsia neste estudo foi similar à descrita na literatura. As pacientes com eclâmpsia mais jovens estão mais protegidas de desenvolver DMA, enquanto as com HPP apresentam maior chance de apresentar DMA.