Características clínicas das infecções respiratórias agudas por mycoplasma pneumoniae em crianças menores de dois anos

Abstract

As infecções respiratórias agudas (IRA) são responsáveis por aproximadamente quatro milhões de mortes por ano em todo o mundo com metade dessas ocorrendo em crianças menores de seis meses de idade. A maioria das IRA é de causa viral, sendo pouco conhecida a frequência de IRA por Mycoplasma pneumoniae (Mpp) em crianças menores de dois anos. Este estudo tem por objetivo descrever as características clínicas de crianças menores de dois anos que apresentaram IRA com detecção única ou co-detecção do Mpp ou com reação em cadeia da polimerase (PCR) em multiplex negativo no Nordeste do Brasil. Trata-se de um estudo observacional prospectivo do tipo corte transversal, no qual foram incluídas crianças de idade menor que dois anos com diagnóstico clínico de IRA com até sete dias de início da doença e com PCR em multiplex positivo para Mpp ou negativo para 17 diferentes patógenos respiratórios. Foram excluídas as crianças com história de imunodeficiência, cardiopatia congênita hemodinamicamente significante ou complexa e crianças com deformidades e/ou malformações intra e extratorácicas com comprometimento da função pulmonar relatada pela genitora. A amostra foi de conveniência totalizando 118 crianças menores de dois anos com IRA atendidas na emergência pediátrica do Instituto de Medicina Integral Prof. Fernando Figueira (IMIP) no período de abril de 2008 a fevereiro de 2010. Inicialmente foi descrito a frequência e as características clínicas entre as crianças com detecção única, co-detecção do Mpp e as com PCR negativo. Em seguida, avaliou-se as diferenças das características entre as crianças com detecção única, co-detecção de Mpp e as com PCR em multiplex negativo, bem como entre as crianças menores e maiores de seis meses com IRA utilizando-se o teste de qui-quadrado e quando necessário o exato de Fisher. O Mpp foi o único microorganismo isolado em nove (20%) dos 45 casos. Co- detecções envolveram de um até quatro diferentes vírus, sendo o adenovírus, seguido do vírus sincicial respiratório as mais frequentes. Dos 118 casos de IRA, 49,2% crianças eram menores de seis meses, correspondendo a 44,4% de detecção única pelo Mpp. Cinquenta e seis por cento eram do sexo masculino, sendo detecção única 66,7%. Em torno de 1/3 das co-detecções (38,9%) e 22,2% das crianças com detecção única conviviam com tabagistas na residência. As manifestações clínicas mais frequentes nos casos de detecção única e co- 9 detecção respectivamente foram tosse (100% e 97,8%), dispnéia (89% e 95,6%), sibilância (89% e 84,4%) e febre (67% e 69%) e os diagnósticos mais frequentes foram de bronquiolite (55,6% e 53%) e pneumonia (33,3% e 30%). Quanto à gravidade de doença, 63 crianças (53,4%) apresentaram forma moderada ou grave da doença, correspondendo a seis casos de forma moderada (66,7%) e a um grave (11%) quando da detecção única do Mpp. Das crianças do estudo, 12% dos casos necessitaram de oxigenoterapia, nenhum de ventilação mecânica. Quarenta e nove crianças receberam antibioticoterapia, sendo três casos de detecção única. Do total, aproximadamente 40% fez corticoterapia, sendo seis casos de detecção única pelo Mpp. Uma criança foi a óbito. Esse estudo representa o maior número de casos de crianças com IRA onde foi possível observar pela PCR em multiplex que o Mpp pode ser um agente causal importante da bronquiolite e da pneumonia em crianças menores de dois anos.