Custo do tratamento do câncer de colo de útero sob diferentes métodos de custeio

Abstract

Introdução: O câncer do colo do útero é a terceira neoplasia mais comum na população feminina no Brasil e seu tratamento vem ocasionando um impacto econômico cada vez maior na sociedade. Os custos com câncer apresentam uma distribuição heterogênea nos diversos países. Os métodos de custeio podem ser diferentes, sendo o microcusteio mais trabalhoso, contudo mais preciso e o macrocusteio menos exato, porém mais simples de ser conduzido. Objetivos: realizar uma revisão sistemática de estudos sobre os métodos de custeio utilizados no tratamento do câncer do colo de útero invasivo (CCU) no mundo, apurar os custos do tratamento anual por paciente com CCU, sob diferentes métodos, em um centro de oncologia no Brasil e estimar os custos deste tratamento para o Brasil. Métodos: foi realizada uma revisão sistemática de estudos publicados sobre os métodos de custeio utilizados para apurar os custos do tratamento do CCU, em diversas regiões. Em seguida foi conduzido um estudo prospectivo de análise de custos, em uma amostra constituída por 134 mulheres diagnosticadas com CCU, acompanhadas entre maio de 2014 e julho de 2016 em um hospital terciário em Recife, Brasil. Os custos diretos médicos, diretos não médicos e indiretos foram coletados, durante o período do estudo, sob a perspectiva da sociedade. O custo anual por paciente foi descrito em dólar internacional (I$) para a revisão sistemática e em dólar americano (US$) para a análise de custos, ambos ajustados ao ano de 2016. A partir do caso base foram realizadas estimativas para o Brasil. Resultados: A revisão sistemática revelou que o custo médio do tratamento do CCU entre os países estudados foi I$ 16,390.15, representando uma mediana de 61,4% do Produto Interno Bruto (PIB) per capita de cada país onde o estudo foi realizado. O percentual que o custo do tratamento do CCU representou ao PIB per capita destes países não variou de acordo com os métodos de custeio (p=0,522), mas encontramos que em países de renda média o custo do tratamento do CCU foi proporcionalmente maior do que nos países de renda alta (p=0,032). Na análise de custo foram apurados os custos diretos registrados nos prontuários das mulheres e os custos indiretos por meio de entrevistas face a face no momento da consulta no ambulatório e durante o internamento. O custo anual do tratamento do CCU por paciente foi de US$ 2,219.73 (ou I$ 3,591.72). Os custos médicos diretos foram responsáveis por 81,2% destes e os custos indiretos 15,3%. Dentre as modalidades terapêuticas, 38,2% dos custos foram alocados na radioterapia e 27,4% na quimioterapia ambulatorial. Encontramos diferença entre as metodologias de custeio empregadas e deste modo ao utilizar o microcusteio (que representou os custos para a instituição (IMIP)) os custos do tratamento foram maiores do que quando aplicamos o macrocusteio (que representou como proxi, os custos para o pagador Sistema Único de Saúde (SUS)) (US$ 581,985.75 vs. US$ 523.218,22, p=0,0237). O custo estimado para o Brasil para um ano de tratamento do CCU na população atendida pelo SUS utilizando o caso base, foi de US$ 25,954,195.04. Conclusões: os custos do tratamento do CCU encontrados na revisão sistemática, representaram uma parcela maior do produto interno bruto (PIB) per capita nos países mais pobres quando comparados aos países mais ricos e as diferentes metodologias de custeio não interferiram nos resultados. Os custos médicos diretos encontrados na análise de custos revelaram subfinanciamento do SUS no tratamento do CCU pela perspectiva de um centro de oncologia público. Estas estimativas poderiam ser aplicadas em estudos de custo efetividade relacionados ao tratamento e prevenção do CCU.