Cobertura vacinal em crianças: prevalência, tendência e condicionantes em 25 anos no estado de Pernambuco 1991 a 2015/2016

Abstract

INTRODUÇÃO: A cobertura vacinal é um indicador que estima o nível de proteção da população infantil contra doenças imunopreveníveis. O percentual de vacinação com a terceira dose da vacina contra difteria, tétano e coqueluche (DTP) é considerada uma proxy do esquema básico completo recomendado pelo Programa Nacional de Imunização para menores de um ano que se apresenta em declínio no Brasil de 2016 a 2018. Os fatores que podem interferir na taxa de cobertura vacinal, incluem as condições socioeconômicas, a logística da distribuição das vacinas, o conhecimento e atitudes dos pais acerca das doenças preveníveis, a hesitância e a recusa para vacinar, além de outras relacionadas aos profissionais e serviços de saúde. OBJETIVOS: verificar a prevalência da cobertura vacinal, tendência e condicionantes da terceira dose da DTP3 em inquéritos realizados no estado de Pernambuco no período de 25 anos e identificar os fatores associados ao cumprimento do calendário em um aglomerado urbano subnormal em Recife. MÉTODOS: Desenho de corte transversal e seguimento temporal, utilizando bancos de dados ad hoc, extraídos das quatro Pesquisas Estaduais de Saúde e Nutrição e do estudo “Desenvolvimento infantil em um aglomerado urbano subnormal do Recife, PE”. Foram incluídas as crianças de 12 a 23 meses das pesquisas e de 0 a 36 meses com comprovação das doses recebidas pelo cartão de vacina no aglomerado urbano. A análise estatística descritiva das variáveis socioeconômicas, maternas e da criança foi realizada em ambos estudos. Calculou-se a cobertura vacinal de cada ano dos Inquéritos, sendo analisada a tendência e testadas as associações pelo qui-quadrado de Pearson. Foram estimadas as razões de prevalência e intervalos de confiança de 95% e comparados os resultados do primeiro e último inquérito. No aglomerado urbano, realizou-se a regressão uni e multivariada de Poisson, para

identificar fatores associados ao cumprimento do calendário vacinal, razões de prevalência (RP) e intervalos de confiança (IC) de 95%. Estabeleceu-se significância estatística no nível de p <0,05. RESULTADOS: A cobertura vacinal em 1991, 1997, 2006 e 2015/2016 foi 77,6%, 82,7%, 89,7% e 72,9%, respectivamente, com tendência crescente de 1991 a 2006 (p<0,001) e redução entre 2006 e 2015/2016 (p<0, 0001). Os fatores condicionantes em 1991 foram situações socioeconômicas desfavoráveis, dificuldades no acesso ao serviço de saúde, déficit nutricional e diarreia (p<0,05). Em 2015/2016 persistiram condições socioeconômicas e diarreia e identificados outros não pesquisados anteriormente, como cor preta e autopercepção negativa de felicidade, da mãe (p<0,05). O calendário de vacinação foi cumprido por 52% das crianças do aglomerado urbano subnormal sendo associados ao cumprimento inadequado, a faixa etária de 12 a 36 meses e o ensino médio incompleto da mãe. CONCLUSÕES: A prevalência da DPT3 e o percentual de cumprimento do calendário ficaram abaixo da meta preconizada pelo Programa. Os fatores condicionantes desta redução são complexos, multifatoriais e dependem do contexto socioeconômico, político, assistencial e de elementos subjetivos como hesitação, medos, crenças e até da percepção materna de felicidade. Os resultados estabeleceram um estado de alerta que deve ser valorizado pelas perspectivas desfavoráveis que indicam. Assim, urge encontrar diferentes formas de reduzir a desconfiança quanto a segurança e eficácia da imunização, fortalecendo o debate das equipes da Estratégia Saúde da Família com a população sobre o poder e os benefícios das vacinas, além dos riscos da não vacinação.